Opílio Viégas, meu avô. |
Para mim, era uma aventura fantástica. Cruzar o país em quase 80 horas seguidas, ininterruptas, de ônibus, tinha um sabor especial e, creio, foi o que plantou definitivamente em mim um certo espírito "cigano", uma vontade incontida de estar sempre buscando um outro horizonte. Eu esperava ansioso cada nova partida. Mas, naquele 77, a viagem foi marcante.
No dia em que desembarcamos em São Luis, meu tio Zé, irmão de minha mãe, e minha tia Belinha, mulher dele, questionaram o meu avô sobre a possibilidade de minha permanência por mais tempo em São Luis. Eles queriam que eu ficasse morando lá para iniciar os estudos do que, à época, se chamava Colegial (antigo Ginásio). Os meus olhos brilharam diante da possibilidade. Fiz um silêncio sepulcral, mas um furor contido me tomou de assalto e pedia que eu gritasse de vontade de ficar.
Meu avô, homem prático, disse não ver problema. Mas condicionava a decisão à autorização de meus pais. Resultado, fiquei. Foi a minha primeira aventura individual. E foi uma época de descobertas juvenis.
Década de 70. Eu, pouco mais que um menino. |
Mas havia a novidade do colégio novo, dos amigos novos e... da Discoteca! Em plenos anos 70, o "Disco Club" invadia o mundo e o Brasil, de Norte a Sul. E a ilha de São Luis não estava isenta dessa invasão. Então, havia bumba-meu-boi, quadrilha de São João, havia a Turma do Quinto, manifestações populares de raízes telúricas, mas aos sábados à tarde, nada me desviava de boas horas de saculejo numa discoteca que ficava no lado Oeste da ilha, bem diante da Ponte de São Francisco. A memória me trai e eu não consigo lembrar agora o nome daquele lugar.
Ponte de São Francisco - São Luis - MA |
Donna Summer, rainha das velhas tardes, na discoteca. |
Hoje, pensando nisso tudo, percorro mentalmente cada uma das ruas da minha cidade. Como numa das viagens de retorno do meu avô a São Luis. Por alguma razão, tenho mais claro agora a intensidade do sentimento que o fazia voltar sempre à nossa ilha.
Velhas tardes, belos dias.
Quando chego ao trabalho e ligo o computador, coloco lá a rádio uol prá tocar. Particularmente, hoje cedo, vi a notícia da morte de Donna e ouvi um pouco das músicas que embalavam o saculejo da nossa juventude. Acredito, de verdade, que há um pensamento coletivo que nos leva a um lugar comum. A memória instantânea que faz parte de todos nós.
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