A tarde corre lenta. E calorenta. O sol se encobre de nuvens e antecipa a chegada da noite. Penso que a meteorologia pode estar certa. Amanhã, pode vir chuva depois de quase 110 dias de seca em Brasília. Abro o computador. Percorro meus blogs preferidos. Vou à Rua dos dias que voam e me espanto com a notícia que leio: Por motivo de saúde, Cesária Évora deixa os palcos.
Me bate uma apreensão, uma estranha tristeza, como se soubesse algo ruim sobre alguém tão próximo. E, no fundo, acho que é mesmo assim. Conheci Cesária cantando Sodade, num disco que chegou às minhas mãos em 1994. Nunca mais deixei de ouvi-la.
Cesária tornou-se um sucesso internacional depois de gravar um disco na França, em 1988. Virou a Diva dos pés descalços. Era assim que ela sempre se apresentava. Um hábito que trouxera de sua infância pobre em Cabo Verde. De sua vida sofrida, talvez, uma marca.
Aos setenta anos e em meio à gravação de um novo disco, a notícia não agradou também a Cesária. Ela não queria parar. Mas é uma ordem médica. A rainha das “Mornas” – gênero musical genuinamente caboverdeano que marcou seu repertório – se vê forçada a recolher-se.
Como a tarde de sábado se recolhe. Lenta. Calorenta. E agora, um pouco mais triste. Por ela, pelos palcos, por nós.
Sodade
Quem mostro'b
ess caminho longe.
Quem mostro'b
ess caminho longe.
Ess caminho
pa São Tomé.
Sodade sodade sodade
Dess nha terra d'São Nicolau.
Si bo t'screve'm
m'ta screve'b.
Si bo t'squece'm
M'ta squece'b.
Até dia ke bo volta.
Sodade sodade sodade
dess nha terra d'São Nicolau.
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