quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Carta para Marco Aurélio

Meu caro amigo, Marco Aurélio*. Saudades.

Há dias não nos vemos e isso me causa uma gastura. É que já me acostumei ao nosso encontro semanal, na mesa onde matamos a fome e a sede, e alinhavamos a barra do dia, sempre às sextas. E quando isso deixa de acontecer sinto a vida como uma frase incompleta. Uma oração sem um ponto, algo sem sentido. Pois, é assim que sinto.

Reconheço que a ausência é mais minha do que sua. Por isso e porque, sem querer, dei de cara com as suas origens, lhe escrevo. Explico. Por força de um compromisso de família, tive que ir a Santo Ângelo - RS na semana passada. Viagem breve, objetiva e cheia de alegria. Minha sobrinha, Júlia, fez quinze. Os pais dela, Carlos e Lisete, fizeram um debut nos moldes de antigamente. Apresentação à sociedade, vestido de gala, cerimonial requintado, valsa com avô, pai, padrinho e namorado. E eu, além de tio, sou padrinho. Não poderia faltar.

Um pouco antes de deixar Brasília, fiquei sabendo que você tem uma ligação umbilical com Santo Ângelo. Passou a infância ou parte dela por lá. Conhece de perto os rigores do vento Minuano. Tem intimidade com os pagos gaúchos. E carrega no íntimo um espírito revolucionário, Farroupilha, Maragato. Num rápido telefonema, um pouco antes da viagem, você me desafiou: Tente encontrar a minha escola!

Pois bem, quero te dizer que a encontrei. Estive lá, diante da escola em que você deve ter aprendido os passos iniciais da sua formação. Lugar onde, certamente, começou a montagem do quebra-cabeça, da linha de princípios, do jornalista em que você se transformou. Me detive durante alguns minutos diante da escadaria imponente do Colégio Cenecista Sepé Tiarajú.


Fiquei te imaginando. Que tipo de guri terás sido? Endiabrado, um capeta de lambreta, desses que não dá sossego a ninguém? Ou, um menino recolhido, tímido e observador? Ou, quem sabe ainda, um misto dos dois. Não cheguei a um veredito. Mas o que quer que tenha sido, foi muito proveitoso. Resultou nessa figura íntegra, elegante e bem humorada que você é.


Claro que a escola já não deve ter a mesmas características de quando estudastes lá. Mas fiz questão de trazer as imagens que, certamente, lhe provocarão as lembranças daqueles tempos. Fui além da escola. Fui à praça da Igreja matriz, passei pelo CTG – Centro de Tradições Gaúchas, “20 de setembro”, data magna da Revolução Farroupilha.



Avistei a fachada do antigo Cine Avenida (hoje, só mesmo uma fachada, o cinema não existe mais). E encerrei minha visita emocional na estação ferroviária da cidade, hoje, Museu da Coluna Prestes. Foi dali que, segundo contam orgulhosos os santoangelenses, partiu a marcha histórica que atravessou o país, defendendo um projeto revolucionário, que ao final, é parte inegável da herança política deste país.


Escrevo agora para matar um pouco da saudade. E para te lembrar: Amanhã é sexta. Já é hora de nos encontrarmos. Por favor, não falte ao almoço.

Grande abraço. E até lá.

*Marco Aurélio Pereira  - Jornalista com pós-graduação em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas. Foi repórter do Jornal do Brasil, O Estado de S. Paulo e da revista Afinal, secretário de Redação do Correio Braziliense e editor de Economia e Internacional do Jornal de Brasília. Foi também diretor da United Press International em Brasília, diretor geral do jornal Última Hora de Brasília, coordenador de Comunicação Social do Incra e gerente de Marketing e Comunicação do Sebrae Nacional.

2 comentários:

  1. Maranhão, parabéns pelo texto. Marco Aurélio é um grande amigo, figura exemplar e um jornalista de invejável talento. Espero que ele tenha ido ao almoço. Abraço aos dois.

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  2. Ele foi, Zezão. E rimos muito. Sexta-feira completa. Grande abraço.

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