quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Gerações

O pai  de meu pai navegava no mar. O velho Opílio Viegas e seu barco Bela Rosa singravam a Baía de São Marcos. Vinham de Alcântara a São Luis, porto seguro de uma vida inteira. O pai de meu pai, meu avô. Vaidoso e viril. Cheio de traquejos e invencionices. Homem do mar que um dia aportou. Em terra firme fez, com Antonieta, um único filho. Seu filho, meu pai.

Mau pai Inocêncio Viegas namorou minha mãe na janela da casa dela. Meu pai, quando era criança, desejou muito tomar banho de chuva, na rua, com as outras crianças. Cresceu, vestiu farda e foi pro quartel. Passava garboso, todos os dias, com a sua farda verde-oliva. Encantou minha mãe, Isabel. E casou-se com ela. Depois, eu nasci.

Quando eu era criança ensinava judô aos meus amigos na varanda de minha casa. Mas eu queria mesmo era jogar bola na rua. Um dia, corri na chuva junto com meu pai. Foi a primeira vez. Os pingos eram grossos, caindo no meu rosto. A chuva era assustadora e linda. Eu tinha medo e coragem. Meu pai estava ali. Aí, eu cresci. Ganhei o mundo. Virei gente, jornalista, viajeiro e contador de história. Casei com Mara e também fiz filho com ela.

Meu filho, Gabriel Viegas foi menino levado da breca. Teve infância boa. Se sujava, na rua. Jogava bola, na rua. Tomava banho de chuva, na rua. Sempre foi pequenininho, mas depois cresceu. Virou um homenino lindo. Toca violão, escreve e ri por qualquer coisa. Acho que ele é feliz. Que eu saiba, ainda não fez filho em ninguém. Mas não é por falta de lindeza. Um dia, ele ainda faz.

3 comentários:

  1. parabéns pela bela cadeia de histórias...
    abraços
    LT

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  2. Clauber Bezerra me escreve e eu divido com vocês:

    Meu amigo Viegas, seus textos "bestas" tem o dom de me emocionar.
    Que linda linha do tempo você traçou. Essas fotografias, a construção das frases descrevendo a concepção dessas vidas... Lindo, lindo.
    Parabens poeta!

    Um abraço, Clauber.

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