sábado, 1 de setembro de 2018

Sobre a vida (carta ao meu maestro soberano)

(Para Luis Theodoro)

Querido maestro.

Dias atrás fiz 56.
Não sei direito o que isso significa porque é a primeira vez que faço 56. Portanto, me resta descobrir vivendo. Talvez, por isso mesmo, venho pensando muito na vida.

Tenho recebido muitos presentes, apesar dos tempos difíceis que enfrentamos. Fazer o Caminho de Cora foi um deles. Talvez, o mais importante trabalho que eu tenha feito na vida. Mas tem outros também. Menores, mais simples, mas nem por isso, menos importantes.

Com meu irmão, Iram.
No dia do meu aniversário, meu irmão, Iram, me deu um livro escrito por um menino que nasceu em Campo Grande, MS, dois ou três anos antes de eu chegar por lá. Seu nome, Danilo Nuha. O "Japa". Portanto, eu já tinha vinte e poucos quando ele nascia. 

Danilo "Japa"Nuha
Nossos destinos se cruzaram de modo distinto. Nunca nos encontramos, mas sempre estivemos por perto. Ele é amigo de grandes amigos que fiz por lá, como o poeta e compositor Paulo Simões, como Rodrigo Teixeira, Almir e tantos outros. 

Paulinho Simões e o Japa
Um dia, eu estava cruzando o país, ponteando em algum aeroporto destes ai, quando encontrei um livro assinado por ele. "Nada Consta", era o nome do livro. Nele, o Japa conta as histórias de sua curta (por enquanto, e que seja longa!) e intensa existência. De como se aventurou no mundo. De como foi de limpador de fossas a pedreiro. De jornalista a muambeiro. De um sujeito comum a iluminado pela proximidade de Bituca. Comprei.

Li numa avidez incontrolável. Tanto que acabei a leitura antes do avião pousar novamente. Assim como tenho feito sempre, compartilhei a leitura. Com Mariza, com meu irmão, com tantos outros amigos. 

O livro de aventuras do Japa
Agora, não faz muito, no dia do meu aniversário, meu irmão me presenteou com um outro livro do Japa Nuha. Neste, ele que virou, há pelo menos dez anos, o mais próximo assessor de Milton Nascimento, faz um trabalho de resgate primoroso, reunindo as canções escritas por Milton e contextualizando a escrita e a música. O livro é uma delícia e eu acabo de lê-lo.
Meu mais novo presente
Desta vez, usei a tecnologia para fazer algo que, agora, o tempo permite: Enquanto lia as canções e suas histórias, acessava minha conta do spotfy e, além de ouvir as músicas, organizei a minha própria playlist com as letras e canções do Milton, que constam no livro. Uma maravilha destes tempos pós-modernos e virtuais. Bem melhor que perder tempo com ódios e rancores tão comuns às redes sociais.

Dai que, ler esse livro me provocou a escrever. Dai que, fazer o Caminho de Cora também me revolucionou internamente. Dai que, a cada dia mais eu sinto vontade de escrever.

Dai que, hoje, acordei, terminei de ler o livro e de ouvir as músicas de Milton. E pensei em o quanto nossa parceria anda distante. Dai que, senti saudades e comecei a escrever de uma só vez algo que eu suponho tem cara de poesia, mas também de música. E que fala exatamente dessa questão do tempo que passa. E da vida que passa e fica.

Então, te escrevo por isso. Pra mostrar o que escrevi, pra matar a saudade e pra falar da vida.
Taí. Que seja o que a vida queira.

SIM.
A VIDA HÁ
ENTRE O QUE FOI
E O QUE SERÁ

SIM, A VIDA HÁ. 

MESMO QUE NESSE 
HIATO DE TEMPO
A GENTE NÃO SINTA
O TEMPO PASSAR

A VIDA HÁ
ENTRE O QUE FOI
E O QUE SERÁ

ENQUANTO ISSO
O TEMPO PASSA
E A GENTE VIVE 
UMA CERTEZA

SIM.
HÁ VIDA 
ENTRE O QUE FOI
E O QUE SERÁ.

 
Um abraço saudoso.
De quem segue vivendo.

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