segunda-feira, 5 de outubro de 2015

O Deus Mu dança



Na quarta, enquanto eu "mudava" flagrei esses pássaros "cantando".
A quarta-feira, 30.09, seria intensa. 
O último dia do mês era também o meu último dia no apartamento do Bairro Noroeste. Estava de muda para o Bairro Sudoeste. Meu movimento tem a ver com as exigências do novo tempo. Tempo de baixos rendimentos, tempos de cortes nos gastos, tempo de ajustar a vida para o tamanho que caiba no bolso.

Como toda mudança, aquela também tinha lá seus registros. A gente se acostuma fácil com os ambientes. Principalmente, aqueles que se tornam a nossa morada. Me acostumei às ruas do meu bairro, à padaria, ao fluxo do trânsito, ao Parque Burle Marx - ainda que, inacabado. 

Fui me acostumando à poeira e à chuva de um lugar que não estava completado. Um ano de morada foi tempo suficiente para perceber a lindeza do horizonte e o bem que ele me fazia, todos os dias, ao abrir a janela.

Naquela quarta, sai da cama pensando nos passos necessários. Para ir ao banheiro, para chegar à cozinha, para alcançar o café, para ligar o rádio. Tudo, tudinho, decorado mentalmente. Minha casa me servia como uma velha e boa calça jeans, daquelas por quem a gente se apaixona fácil. Vou sentir saudades, pensei.

Mas, a mesma nostalgia que me invade pela partida cede espaço à novidade do que é inédito, do desconhecido. Pelo desafio e pela surpresa do que está por vir.
Em meio a esse caldeirão de pensamentos e lógicas, recebo uma mensagem por  Whatsapp, do Mauro Di Deus. 

O "zap" do Maurinho
Em resumo, ele me dizia que foi à banca de jornais da Quadra 308 Sul e se lembrou de mim. É que o dono da banca, o Márcio, o recebeu com um impresso em que comunicava, também, uma mudança.

A banca, que ele tocava havia 20 anos, estava mudando de mãos. E ele, além de despedir-se dos amigos que fez (mais do que clientes), aproveitava o comunicado para apresentar a nova proprietária: ninguém menos que Conceição Freitas, a jornalista de texto limpo e brilhante, que preencheu as páginas do Correio Braziliense por muitos anos, com preciosidades, que só quem entende da alma de Brasília pode produzir.

Mauro lembrou do texto que escrevi no dia em que eu soube da notícia de que Conceição deixara o Correio. Ele fotografou o impresso que recebeu e me mandou, como prova de que o que relatava era a mais pura verdade. Como se isto fosse preciso. As informações vindas do Mauro são precisas, nunca alcançaram a raia da dúvida.


Por um instante, parei. Pensei comigo: a mudança não é só minha. Pensei na conjugação daquele verbo transitivo direto, mudar.

Eu mudo,
tu mudas,
ela muda,
nós mudamos
e um novo mundo nos absorve em mudança.

Conceição Freitas, na redação
Hoje, dia em que me sinto definitivamente instalado em minha nova morada, vizinho do Parque Sucupira, meu novo local de corridas, é também o dia em que Conceição Freitas, literalmente, “bota banca”.

Pois, então, está decidido: antes que o dia termine, vou dar-lhe um abraço e desejar que o horizonte dela seja tão promissor quando a alegria que sinto agora.

Fui levar o meu abraço à Conceição. Quis o destino que
eu encontrasse pro lá o Mauro Di Deus e o Márcio
De jornalista a jornaleira, dona do seu nariz e do seu próprio negócio. 
Sorte ai, Conceição.
Sorte pra todos nós!

Porque, como diz o velho e bom Raul, é preferível ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo!   


PS. Conceição vai ser mais do que vendedora de jornais. Na conversa de fim de dia que tivemos, ela me conta que a banca vai seguir vendendo jornais. E vai também se tornar um ponto de referência para todo mundo que quiser conhecer melhor Brasília e as suas histórias.

2 comentários:

  1. Maranhão grande repórter e belo poeta. Um texto para falar de Conceição só poderia ser assim: muita notícia, muita poesia e ternura demais! Parabéns mais uma vez.

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  2. Que delícia. Falar de mudança com tanta ternura e de braços dados com a esperança, só pode partir de você. A vida é novidadeira para quem tem coragem e reserva boas surpresas. Eu acredito.

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