Na quarta, enquanto eu "mudava" flagrei esses pássaros "cantando". |
A
quarta-feira, 30.09, seria intensa.
O último dia do mês era também o meu último
dia no apartamento do Bairro Noroeste. Estava de muda para o Bairro Sudoeste.
Meu movimento tem a ver com as exigências do novo tempo. Tempo de baixos
rendimentos, tempos de cortes nos gastos, tempo de ajustar a vida para o
tamanho que caiba no bolso.
Como toda
mudança, aquela também tinha lá seus registros. A gente se acostuma fácil com
os ambientes. Principalmente, aqueles que se tornam a nossa morada. Me
acostumei às ruas do meu bairro, à padaria, ao fluxo do trânsito, ao Parque
Burle Marx - ainda que, inacabado.
Fui me acostumando à poeira e à chuva de um
lugar que não estava completado. Um ano de morada foi tempo suficiente para
perceber a lindeza do horizonte e o bem que ele me fazia, todos os dias, ao
abrir a janela.
Naquela
quarta, sai da cama pensando nos passos necessários. Para ir ao banheiro, para
chegar à cozinha, para alcançar o café, para ligar o rádio. Tudo, tudinho,
decorado mentalmente. Minha casa me servia como uma velha e boa calça jeans,
daquelas por quem a gente se apaixona fácil. Vou sentir saudades, pensei.
Mas, a mesma
nostalgia que me invade pela partida cede espaço à novidade do que é inédito,
do desconhecido. Pelo desafio e pela surpresa do que está por vir.
Em meio a
esse caldeirão de pensamentos e lógicas, recebo uma mensagem por Whatsapp, do Mauro Di Deus.
O "zap" do Maurinho |
Em resumo, ele me dizia que foi à banca de jornais da Quadra 308 Sul e se lembrou de mim. É que o dono
da banca, o Márcio, o recebeu com um impresso em que comunicava, também, uma
mudança.
A banca, que
ele tocava havia 20 anos, estava mudando de mãos. E ele, além de despedir-se
dos amigos que fez (mais do que clientes), aproveitava o comunicado para
apresentar a nova proprietária: ninguém menos que Conceição Freitas, a
jornalista de texto limpo e brilhante, que preencheu as páginas do Correio
Braziliense por muitos anos, com preciosidades, que só quem entende da alma de
Brasília pode produzir.
Mauro
lembrou do texto que escrevi no dia em que eu soube da notícia de que Conceição
deixara o Correio. Ele fotografou o impresso que recebeu e me mandou, como
prova de que o que relatava era a mais pura verdade. Como se isto fosse
preciso. As informações vindas do Mauro são precisas, nunca alcançaram a raia
da dúvida.
Por um
instante, parei. Pensei comigo: a mudança não é só minha. Pensei na conjugação
daquele verbo transitivo direto, mudar.
Eu mudo,
tu mudas,
ela muda,
nós mudamos
e um novo
mundo nos absorve em mudança.
Conceição Freitas, na redação |
Hoje, dia em
que me sinto definitivamente instalado em minha nova morada, vizinho do Parque
Sucupira, meu novo local de corridas, é também o dia em que Conceição Freitas,
literalmente, “bota banca”.
Pois, então,
está decidido: antes que o dia termine, vou dar-lhe um abraço e desejar que o
horizonte dela seja tão promissor quando a alegria que sinto agora.
Fui levar o meu abraço à Conceição. Quis o destino que eu encontrasse pro lá o Mauro Di Deus e o Márcio |
De
jornalista a jornaleira, dona do seu nariz e do seu próprio negócio.
Sorte ai, Conceição.
Sorte pra
todos nós!
Porque, como
diz o velho e bom Raul, é preferível ser essa metamorfose ambulante, do que ter
aquela velha opinião formada sobre tudo!
PS. Conceição vai ser mais do que vendedora
de jornais. Na conversa de fim de dia que tivemos, ela me conta que a banca vai
seguir vendendo jornais. E vai também se tornar um ponto de referência para
todo mundo que quiser conhecer melhor Brasília e as suas histórias.
Maranhão grande repórter e belo poeta. Um texto para falar de Conceição só poderia ser assim: muita notícia, muita poesia e ternura demais! Parabéns mais uma vez.
ResponderExcluirQue delícia. Falar de mudança com tanta ternura e de braços dados com a esperança, só pode partir de você. A vida é novidadeira para quem tem coragem e reserva boas surpresas. Eu acredito.
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