Carta de Celso Grecco
Celso Grecco |
Meu
caro Maranhão,
Anos
atrás estava numa churrascaria no Recife para um show do Juca Chaves. E o Juca,
com todo o seu talento sarcástico, abriu a apresentação (que já não devia ser a
única em uma churrascaria) fazendo piada da própria situação. Disse algo mais
ou menos assim:
"Estou muito feliz porque
nesta semana estive reunido com a alta direção da Rede Globo e ficou acertado
que vão fazer um Globo Repórter sobre a minha carreira. Vão contar da minha
infância, entrevistar amigos, ouvir colegas de trabalho. Relembrar os grandes
sucessos da minha carreira e reproduzir trechos marcantes dos meus shows. Há
também a possibilidade de uma edição compacta no Fantástico e o jornal O Globo
vai fazer um caderno especial no domingo. Ficou tudo acertado. Para que isso
aconteça, eu só preciso morrer".
A
plateia caiu na gargalhada e o Juca riu junto.
Antes
que o final de semana acabasse, perdemos João Ubaldo e Rubem Alves. Antes que a
segunda-feira vire a página do final de semana, vejo uma enxurrada de homenagens
e comentários resgatando o valor insubstituível dos dois. A lembrança do show
do Juca Chaves veio junto com a de uma matéria que li, há não muito tempo, que
falava da frágil condição financeira do João Ubaldo. Sem trabalho, sem
contratos, sem royalties. Se não me engano, até mesmo uma ameaça de despejo o
rondava - somado a problemas com a bebida.
Rubem Alves |
João Ubaldo |
Não
posso fazer juízo de valor sobre a fragilidade da condição humana, mesmo quando
o humano é um dos grandes escritores que este país teve. Não sei se a bebida o
consumiu, não sei se ele ganhou e não soube guardar, não sei o que se passou na
vida de uma personalidade que numa recente altura dos acontecimentos passava
necessidades e lutava contra o declínio geral.
Mas
tento formar uma opinião sobre a nossa condição humana, que relega talentos
como ele ao limbo da história até que a morte os resgate. Aposto que seus
livros ganharão novas edições, que provavelmente a Globo resgatará suas mini
séries que serão exibidas devidamente patrocinadas e que alguém remontará uma
peça (A Casa dos Budas Ditosos?) que lotará o teatro. Sobre essas coisas, eu
quase diria que tenho certeza. O que me intriga e me deixa sem pistas, é
justamente o por quê de ter que ser assim, ou qual é a lição que devemos tirar
disso.
Nunca
mais ouvi falar do Juca Chaves. A única conclusão boa, é a de que ele está
vivo.
Abraço,
Celso.
A mais pura verdade.
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