Aliás, o maior contador de histórias que já
andou pelos sertões desse imenso país.
Sobre computadores
“Dizem que eu não gosto de computadores. Eu digo que eles é
que não gostam de mim. Querem ver? Fui escrever meu nome completo: Ariano Vilar Suassuna. O computador tem uma espécie de sistema que rejeita as palavras
quando acha que elas estão erradas e sugere o que, no entender dele,
computador, seria o certo.
Pois bem, quando escrevi Ariano, ele aceitou normalmente. Quando eu escrevi Vilar, ele rejeitou e sugeriu que fosse
substituída por Vilão. E quando eu escrevi Suassuna,
não sei se pela quantidade de “s”, o computador rejeitou e substituiu por “Assassino”.
Então, vejam, não sou eu que não gosto de computadores, eles é que não gostam de
mim.”
Sobre o inglês e o
português
“Eu não gosto da língua inglesa. A língua portuguesa é que é
linda. Rica. O inglês, além de tudo, é pobre. (Apontando um copo de vidro).
Perguntem a qualquer analfabeto o que é isto aqui. E ele responderá: “É um
copo”. Em inglês, isso aqui é “glass”,
vejam se isso tem jeito de ser? E além de tudo, a língua é pobre. Em português
isso aqui é um copo de vidro, não é? Pois então, em inglês, seria um “glass” de
“glass”. Ô pobreza!
Rindo de si mesmo
Ariano fazia uma palestra no Sul. Depois, autografava seus
livros. E a cada um que chegava para lhe pedir autógrafos perguntava o nome e
ouvia um amontoado de consoantes que não entendia direito. Com paciência, pedia
para que a pessoa soletrasse o nome enquanto, cuidadosamente, fazia a dedicatória. Depois da
terceira vez que pediu a alguém para soletrar o nome, ouviu um pai orientando o
filho para já chegar soletrando o nome “porque o homem é analfabeto!”. Na hora
do autógrafo, o filho já chegou dizendo: “Meu nome é Hugo, H – U – G – O”.
Ariano quase morreu de rir.
Descendo do avião
Da última vez em que esteve em Brasília, antes de embarcar, Ariano resolveu descansar no aeroporto. À sua maneira, deitado no chão. |
Ariano não gostava de viagens de avião. Um dia,
desembarcando para uma palestra, a mocinha que o esperava, delicadamente,
perguntou: Fez boa viagem, mestre? Ao que ele respondeu: Como assim “boa viagem”,
minha filha? As viagens de avião só existem de dois tipos: As tediosas e as
fatais. O avião é o único meio de transporte que a gente entra e reza para que
a viagem seja tediosa.
Aula espetáculo e Chico Ciência
Pra mim, o Chico Science deveria se chamar Chico Ciência.
Um dia, chegando para fazer uma palestra, leio uma faixa estendida em frente à escola:
"Aula Show de Ariano Suassuna". Mandei tirar a faixa. Senão, não fazia a palestra. Eu não dou "Aula Show". Dou "Aula Espetáculo". Aliás, na minha terra, Xô é uma interjeição usada pra espantar galinha.
Aula espetáculo e Chico Ciência
Ariano e Chico Ciência |
"Aula Show de Ariano Suassuna". Mandei tirar a faixa. Senão, não fazia a palestra. Eu não dou "Aula Show". Dou "Aula Espetáculo". Aliás, na minha terra, Xô é uma interjeição usada pra espantar galinha.
Sobre a morte
Ariano e Zélia, seu grande amor. |
“Na minha terra, no sertão da Paraíba, a morte tem nome.
Chama-se Caetana. E tem a imagem de uma mulher bonita. Aliás, essa é a única
forma que eu aceito encarar essa danada. Como uma mulher bonita”.
O nome de minha cidade vem de uma canção de Joubert de Carvalho, Maringá, no noroeste do Paraná. A canção conta o drama de uma cabocla que despede-se de seu amado. Esta canção estava na boca dos operários que construíram a estrada de ferro que passava pela cidade, muitos deles nordestinos. Quando Maringá completava 50 anos, minha irmã Daisa, professora e bailarina, fez uma ópera dançada, contando a história dos migrantes, pela ótica feminina.O que tem a ver o Nordeste com o Paraná? Suassuna. Nesta ópera foi usado muito do Projeto Armorial. Desconhecido pela maioria dos brasileiros, porém um diamante cultural de nosso país.Densidade, beleza e cultura em teatro, música e dança. Obrigada Ariano, talvez só em você haja mérito neste nome que designa uma raça pura chamada Brasil.
ResponderExcluirAriano Suassuna não morreu. Encantou e encantado ficará para sempre. Obrigada, mestre!
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