sábado, 26 de abril de 2014

O meu Milton

Ontem, levei um susto. Perdi o fôlego.
Tudo, por conta de um comercial de TV.

A história é curta e, literalmente, grossa.

Uma agência de publicidade teve uma ideia brilhante. Comprou os direitos da música "Canção da América", um clássico do cancioneiro nacional, símbolo essencial do Clube da Esquina, composto por Milton Nascimento e Fernando Brant, para usar em um comercial de uma indústria de iogurte e derivados de leite.

Até ai, tudo bem. Um argumento, convenhamos, nada original. Muitos já fizeram isso e produziram peças preciosas.

Nos idos anos 70, quando fumar era bonito e ainda não era pecado, Roberto Carlos emprestou um dos seus clássicos para a marca de cigarros Continental. O filme de um minuto fazia parte de uma série criada para a Souza Cruz, fabricante de cigarros. E contou com o desempenho artístico do galã de TV Herson Capri, para produzir um dos comerciais mais marcantes da TV brasileira.


Zé Rodrix, quando já tinha deixado de ser um dos integrantes do trio Sá, Rodrigues e Guarabira, e começava a se dedicar a criar jingles, que também viraram clássicos, trilhou e protagonizou alguns dos mais memoráveis comercias da TV brasileira. Um deles, para a Pepsi-Cola:


Outro, para uma marca de Jeans que também fez história no Brasil, a US Top:


No início dos anos 80, Rita Lee não só comercializou sua música como permitiu usar sua voz cantando um dos seus maiores hits, Mania de você, numa propaganda de jeans.


Como se vê, no universo capitalista, nada de novidade quando o capital compra a arte para promover produtos.  O problema é que, nos tempos atuais, a indulgência criativa e o mau gosto prevalecem em alguns ambientes publicitários. E o excesso de dinheiro, de um lado, e a falta dele, de outro, são capazes de produzir mostrengos como este - inacreditável, por absurdo - que juntou Danette, Canção da América e Milton Nascimento.


Há quem possa gostar muito de Danette. Nada contra. Há quem, como eu, aprendeu a gostar do Milton Nascimento por tudo o que ele significa para a música popular brasileira, por canções que ele transformou em clássicos, que embalaram amores, lutas e alegrias de tantos.

Particularmente, vou tentar esquecer esse comercial e ficar com o "meu" Milton, da Canção da América original, de Maria, Maria, de Paula e Bebeto, do Clube da Esquina nº 2, do Coração Civil.

E vou torcer para que alguns publicitários gastem mais fosfato em suas ideias criativas. Para não caírem no ridículo, para não nos fazerem sentir vergonha, enfim, para que não destruam em um minuto o que nossos ídolos levaram uma vida inteira para construir.



3 comentários:

  1. O Milton poderia ficar sem essa. Você também fala por mim.

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  2. Bicho, como não vejo TV não havia visto este 'trem'. Coisa mais tosca, sô!
    Fico a pensar no que levaria alguém como o Milton topar fazer algo assim... Grana?! Acho que nem eu na atual pindaíba, viu?!.. :P
    Beira ao 'indigno', isso.

    Abo.
    Auci

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  3. Só tenho uma palavra pra "isto": FRANCAMENTE!!!!

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