domingo, 20 de outubro de 2013

Memórias médicas


Dr. Matta Machado

Meu Oftalmologista preferido, Dr. Matta Machado,  não só é bom cuidador dos olhos. É bom de memória, apreciador e profundo conhecedor de música clássica, escrivinhador bissexto (já disse que ele seja menos rigoroso e mais poeta, que saia dessa condição lítero-reclusa, nós merecemos o seu bom texto) e, por isso mesmo, de vez em quando nos premia com uma linhas saborosas. 
Dia destes, me escreveu. Prosa rápida, mineira e certeira, que divido com vocês agora. Vai que é tua, Matta Machado!
Querido Maranhão Viegas, 
Relembrando-me de uma passagem, lembrei-me de você.
Da Costa Santos
Por Matta Machado

Meu pai tinha um amigo de BH, o Da Costa,  que se dizia  muito orgulhoso de sua Amarante e poeta maranhense. 
Papai, vindo visitar-me, reencontrou-se com ele em Brasília. Era 1964 e o lugar,  o "Bar dos Amigos",  ficava na 510 Sul. Ponto de encontro que o velho Matta,  boêmio e verdadeiro poeta,  gostava de chamar de "Bar dos Inimigos". 

Como era tempo da ditadura, então chamada de Revolução, espalharam verdadeiro terror e repressão a todas as atividades camponesas.  Meu pai  brincava,  fingindo desafiar essa "Revolução": 
- Hoje farei uma reforma agrária.
  - Gritava ao garçom: 
- Vou tomar Três Fazendas! (pinga da época). 

À tarde, assentados numa das dezenas de mesas ainda desocupadas àquela hora,  vejo o Da Costa, chegando do mictório.  Irônico, com um meio sorriso  sem graça,  mostrava a mão a embalançar e dizia-nos: 
- Tinha um sujeito no banheiro  me gozando. Olha só o que ele me disse : 
"Que velho safado, batendo punheta!"
É...!  Se sabíamos todos que o Da Costa tinha Parkinson, nunca poderíamos imaginar no quê daria a "Revolução".

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