Roberto Alem Rojo |
Direto de Cochabamba, Bolívia, recebo um e-mail do meu compadre Roberto Além Rojo:
"Estou embarcando para Katmandu. Meu documentário foi selecionado para a mostra de filmes indígenas do festival que acontece lá, todo ano."
Dá quase pra ver a alegria dele exalando pelos teclados.
Sobre Roberto já falei muito aqui no Blog. Inclusive sobre a última aventura a que ele me convidou a participar, dando pequenas contribuições ao roteiro do filme Teoponte. Quem quiser conhecer um pouco mais dessa história é só clicar aqui.
Roberto, Alejandro, Ramon e Gustavo Ostria. Parte da turma encarregada de escrever o roteiro de Teoponte. |
Junto com o convite, Roberto me manda um texto que foi escrito e publicado por outra grande figura, Ramon Rocha Monroy, um grande amigo que fiz e um dos maiores jornalistas e roteiristas bolivianos dos tempos recentes. Sobre Ramon também já escrevi aqui no blog, querendo conhecê-lo melhor, basta clicar aqui. Você não vai se arrepender.
Esses dois amigos, sem que se dêem conta e cada um na sua área específica, às vezes juntos, às vezes separados, vão traduzindo a história da Bolívia em letras e imagens. Um e outro merecem respeito, apoio e admiração pelo que fazem.
Por isso, aproveito a deixa para traduzir (livremente) e publicar aqui também o texto em que o Ramon conta um pouco da luta do Roberto para produzir filmes e documentários. É a minha forma de ajudá-los e de dizer o quanto lhes admiro e respeito.
Roberto Alem Rojo
é convidado para Festival de Cinema do Nepal
Por Ramom Rocha Monroy
No ano passado, Roberto
Alem Rojo esteve na Instituição
Smithsonian, convidado a expor seu documentário "Tentayape, a última
casa". Agora, ele foi convidado a ir a Kathmandu, pelos organizadores do 6º
Festival Internacional de Cinema e Vídeo dos Povos Indígenas, NIIFF,
que acontece a partir do dia 14 julho de 2012, no Nepal. Roberto vai exibir o mesmo documentário.
Pueblo Ava Guarani, em Tentayape. |
Segundo a descrição
oficial, "Tentayape é o último refúgio Ava Guarani intacto na Bolívia.
Em Pleno Século XXI, esse grupo social faz convergir tempo e espaço para
mostrar ao mundo um outro sentido da vida, onde a base é a solidariedade, a austeridade, a
preservação da natureza e a liberdade. Um exemplo cultural de dignidade e auto-gestão."
Junho e julho tem
sido meses muito produtivos para este prestigioso documentarista boliviano. No
último dia 05 de junho, o Arquivo
Nacional de Cinema de Santiago do Chile, localizado no piso térreo do Palácio
de la Moneda, exibiu "Teoponte; o retorno às montanhas",
um documentário de curta metragem (56 minutos) feito com base no livro escrito
por Gustavo
Rodríguez Ostria, Teoponte, a outra guerrilha Guevarista na
Bolívia."
A sinopse do
documentário é a seguinte:
Dia da partida dos jovens revolucionários - Teoponte |
"Teoponte é a história de jovens que vieram de
vários países latino-americanos, unidos pelo sonho de construir uma sociedade
melhor. Um grupo disposto a pagar com um alto preço, a sua própria vida, para
tornar esse sonho possível. Esta fascinante aventura na selva boliviana,
tornou-se uma tragédia enorme.
A maioria desses jovens idealistas foi morta de forma
brutal. Quarenta e dois anos depois, os sobreviventes têm a oportunidade de dar
início a uma nova luta histórica, para vencer o esquecimento, sem perder de vista que o sonho de que construir uma
sociedade melhor continua possível."
Também no último dia
19 de junho, no Festival Internacional de Cinema e Vídeo sobre Direitos Humanos
"Temos de ver", em Montevidéu, Uruguai, apresentou "Cochabamba,
Nunca Mais - 11 de janeiro de 2007", outro documentário que leva a
assinatura de Roberto Alem Rojo.
O documentário conta
a história de uma sangrenta batalha nas ruas de Cochabamba, sob o governo Evo
Morales. O documentário é assim apresentado:
"Desde o ano 2000, a Bolívia está passando por
uma série de transformações políticas e sociais que levaram a acontecimentos
trágicos. Um deles transformou as ruas da cidade de Cochabamba em uma praça de
guerra, em janeiro de 2007. Foi quando duas forças opostas se enfrentaram,
aprofundando a divisão social do país. O objetivo deste documentário é
despertar a consciência das pessoas, para que dias como esses nunca mais
aconteçam".
Roberto Além faz um
trabalho incansável e exemplar, digno de todo louvor, porque na Bolívia, como
de resto em muitos outros países da América Latina, há uma escassez de recursos
para a produção de documentários e de filmes, ainda que o número de
documentaristas cresça a cada dia.
Conheço de perto todo
o sacrifício que passa Roberto para cumprir sua vocação há mais de 30 anos. Um documentário
como Tentayape, que foi selecionado pelo Smithsonian e agora pelo Festival de
Kathmandu, exigiu dele uma verdadeira entrega ao povo Guarani. Algo que vai
muito além das exigências normais da produção de um simples documentário. Assim,
Roberto ganhou a confiança dos “capitães Guarani, dos homens e mulheres desta
comunidade, com quem hoje se relaciona mais como um amigo de confiança do que
como um cineasta profissional.
Roberto ainda não
conseguiu levantar os recursos necessários para produzir o longa-metragem,
documento-ficional, "Teoponte", mas ninguém duvide que conseguirá. Todo o
seu esforço para isso já se transformou em um belo documentário televisivo que
vem recebendo muitos elogios da crítica e do público, em todos os lugares onde
já foi exibido.
Da mesma forma, "Cochabamba,
nunca mais" não teve um orçamento adequado, entre outras razões,
porque desde o início Roberto escolheu registrar os fatos como um observador
equilibrado, sem resvalar em qualquer viés político no registro dos inúmeros
testemunhos dessa jornada dolorosa.
Para produzir e trilhar o
seu longo e virtuoso caminho pelos festivais mundo a fora, Roberto Alem Rojo
tem contado com o apoio inestimável da Cruz
Vermelha Suíça, da Fundação Simon I. Patiño, do Cidre
IFD e das produtoras Imago e Buena Onda Americas.
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