terça-feira, 1 de setembro de 2015

Carta para Margot

Foto: Sheyla Leal

Querida Margot.

Os dias são quentes e secos em Brasília.
Eu escuto um blues, a seco, como se isso fosse solução, mas não é.

O blues tem apenas a capacidade de nos tirar da letargia. 
De espantar a falta de esperança e a tristeza dos dias.

Os dias são tensos. Intensos.
Tudo é velho no Front.
Nada de perspectivas boas no ar. 
Tudo é incerto. 
E ainda assim, é preciso insistir.

Meus filhos, Mariana, 27, e Gabriel, 23, nunca tinham conhecido 
o sentido da palavra "crise" como sentem agora.

Os dias são tensos e carecem de esperança. 
O Brasil anda sem rumo, feito nau desgovernada.

Governo? Nada.
Nada de braçada na incerteza.

De novo? Nada. 
Nem lá, no Planalto, nem aqui, na Planície.

E ainda assim, vamos tendo que achar sentido.
Na florada dos ipês, por exemplo. 

De amarelos, 
de tão intensos que são, 
de tão fugaz amarelidão,
eles carregam o dom de nos iludir.

Ilusão boa, essa que eles nos dão.

Invadem, sem pedir licença, as inéditas manhãs de setembro 
e, feito mágica, nos fazem achar que vamos ter forças pra dar jeito.

É o que nos resta.

Um pouco de cor e poesia, pra enfrentar os nossos velhos dias.

Dias tensos, em Brasília.


Besos, desde aqui.

Maranhão. 

Margarida Margot Marques é jornalista. 
Já não está conosco.

E mesmo já tendo ido daqui, vai continuar sendo, pela eternidade, uma das maiores jornalistas que conheci. 
Um bom pedaço da vida, passamos juntos em terras sul-matogrossenses. 

Margot era um amor que eu tinha. Foi minha comadre, madrinha de Mariana. E, de vez em quando, bate uma saudade imensa de conversar com ela. 


Resolvo a saudade escrevendo. 
Algo me diz que ela lê. 
Algo me diz, ela me entende. 


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