quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Alfama, de Teresa e Manoel

Teresa, de Sintra. 
Teresa, uma amiga de Sintra, em Portugal, leu o texto da entrevista que fiz com Manoel de Barros, que publiquei também em ecrans d’além mar, a partir do Blog Ruas dos Dias que Voam.

De lá, ela faz um generoso comentário e me apresenta uma poesia inédita de Manoel sobre Alfama, um bairro de Lisboa que em muito me lembra minha Madre D’eus, em São Luis do Maranhão. Aliás, sou apaixonado pelos dois, o daqui e o de lá. Paixão traduzida de forma magistral (agora fico sabendo) pelo lápis e pela letra miúda de Manoel de Barros.

Leia abaixo o comentário da Teresa e, em destaque, o poema de Manoel.  

Manoel de Barros foi agraciado, por cá, com o "Prémio Casa da América Latina", em 2012, pela antologia Poesia Completa, publicada pela Editora Caminho. Como homenagem lisboeta, deixo os versos do poeta sobre Alfama:

Manoel de Barros, em foto de Marcelo Buainain. 
"Alfama é uma palavra escura e de olhos baixos.

Ela pode ser o germe de uma apagada existência.

Só trolhas e andarilhos poderão achá-la.

Palavras têm espessuras várias: vou-lhes ao nu, ao fóssil.

Ao ouro que trazem da boca do chão.

Andei nas negras pedras de Alfama.

Errante e preso por uma fonte recôndita.

Sob aqueles sobrados sujos vi os arcanos com flor!"

                                                            Manoel de Barros

Um comentário:

  1. Minha amiga Teresa Vieira Cunha escreve, desde Lisboa:

    "Caro Maranhão Viegas.

    As minhas recentes descobertas sobre autores brasileiros que escreveram sobre Lisboa têm sido uma agradável surpresa, há dias encontrei, num estudo sobre a cidade, uma crônica de Cecília Meireles, que muito me impressionou. Cecília visitou Portugal em 1934 e, mais tarde, em 1951:

    «Acordas num lugar de brumas: brumas azuis e cor-de-rosa. Não tens certeza do céu, mas sentes em redor de ti um arejado bocejo de água. Dizem-te: LISBOA. Não podes ainda a ver claramente. São tudo espumas de aurora. Mas de repente o sol atira certeira uma chispa de ouro. E sentes um brilho súbito de nácar descoberto. Repetem-te: LISBOA. Percebes à beira do rio aquele caramujo enrodilhado, que vai ficando cintilante, poliédrico, de ouro, de vidro, de límpido e húmido azulejo. É um caramujo quieto, a cuja sombra o rio inventa e desmancha líquidos jardins de muitas cores. É um caramujo de outros tempos, que escutou muitas fábulas, que guarda dentro de si uma vasta memória marinha e em seus dédalos interiores, de sucessivos espelhos, vê passarem reis, cortejos, martírios, intermináveis navegações.» (Vol . ‘Crónicas de Viagem 3’, organizado por Leodegário A. de Azevedo Filho)"

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