Teresa, de Sintra. |
Teresa, uma amiga de Sintra,
em Portugal, leu o texto da entrevista que fiz com Manoel de Barros, que publiquei também em ecrans d’além mar, a partir do
Blog Ruas dos Dias que Voam.
De
lá, ela faz um generoso comentário e me apresenta uma poesia inédita de Manoel
sobre Alfama, um bairro de Lisboa que em muito me lembra minha Madre D’eus,
em São Luis do Maranhão. Aliás, sou apaixonado pelos dois, o daqui e o de lá.
Paixão traduzida de forma magistral (agora fico sabendo) pelo lápis e pela letra miúda de
Manoel de Barros.
Leia
abaixo o comentário da Teresa e, em
destaque, o poema de Manoel.
Manoel de Barros foi agraciado, por
cá, com o "Prémio Casa da América Latina", em 2012, pela
antologia Poesia Completa,
publicada pela Editora Caminho. Como
homenagem lisboeta, deixo os versos do poeta sobre Alfama:
Manoel de Barros, em foto de Marcelo Buainain. |
"Alfama é uma
palavra escura e de olhos baixos.
Ela pode ser o germe
de uma apagada existência.
Só trolhas e
andarilhos poderão achá-la.
Palavras têm
espessuras várias: vou-lhes ao nu, ao fóssil.
Ao ouro que trazem da
boca do chão.
Andei nas negras
pedras de Alfama.
Errante e preso por
uma fonte recôndita.
Sob aqueles sobrados
sujos vi os arcanos com flor!"
Minha amiga Teresa Vieira Cunha escreve, desde Lisboa:
ResponderExcluir"Caro Maranhão Viegas.
As minhas recentes descobertas sobre autores brasileiros que escreveram sobre Lisboa têm sido uma agradável surpresa, há dias encontrei, num estudo sobre a cidade, uma crônica de Cecília Meireles, que muito me impressionou. Cecília visitou Portugal em 1934 e, mais tarde, em 1951:
«Acordas num lugar de brumas: brumas azuis e cor-de-rosa. Não tens certeza do céu, mas sentes em redor de ti um arejado bocejo de água. Dizem-te: LISBOA. Não podes ainda a ver claramente. São tudo espumas de aurora. Mas de repente o sol atira certeira uma chispa de ouro. E sentes um brilho súbito de nácar descoberto. Repetem-te: LISBOA. Percebes à beira do rio aquele caramujo enrodilhado, que vai ficando cintilante, poliédrico, de ouro, de vidro, de límpido e húmido azulejo. É um caramujo quieto, a cuja sombra o rio inventa e desmancha líquidos jardins de muitas cores. É um caramujo de outros tempos, que escutou muitas fábulas, que guarda dentro de si uma vasta memória marinha e em seus dédalos interiores, de sucessivos espelhos, vê passarem reis, cortejos, martírios, intermináveis navegações.» (Vol . ‘Crónicas de Viagem 3’, organizado por Leodegário A. de Azevedo Filho)"