sábado, 3 de maio de 2014

A noite

Eduardo Galeano



1
Não consigo dormir. Tenho uma mulher atravessada entre minhas pálpebras. Se eu pudesse, diria a ela que fosse embora; mas tenho uma mulher atravessada em minha garganta.

2
Arranque-me, senhora, as roupas e as dúvidas. Dispa-me, dispa-me.

3
Eu adormeço às margens de uma mulher: eu adormeço às margens de um abismo.

4
Solto-me do abraço, saio às ruas. No céu, já clareando, desenha-se, infinita, a lua. A lua tem duas noites de idade. Eu, uma.

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