sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

O intangível


Chove em Brasília uma chuva fina, que deixa a sexta-feira com cara de inverno. A tarde se arrasta pro fim.
É quase hora de pegar a estrada e ir pra casa.
No caminho de volta, passo pelo Palácio do Planalto em reforma.
Passo pelos ministérios. Pela Catedral. Pelo Museu Nacional. Pela rodoviária.

A cidade projetada por Lúcio e Niemeyer vai fazer cinqüenta anos em 90 dias. Esperava-se uma grande festa. Mas a festa vai ser morna. Há uma gastura nas vísceras do poder local, que extrapolou o ambiente político e atingiu em cheio o espírito público.

Nada com a gente daqui. A gastura tem a ver com algo disseminado de forma endêmica no exercício da política. Não importa o local, não importa a ideologia, não importa nada. O fascínio pelo poder e a facilidade em manter-se impune são capazes de corroer as mais rígidas convicções.

O resultado é o desgoverno. Ou um governo combalido. Ou autoridades de faz de conta tentando tanger o intangível. O resultado é uma mancha difícil de apagar. Como nódoa de sangue em linho branco.

Brasília, aos cinqüenta, merecia muito mais do que isso.

3 comentários:

  1. Um dia fui engenheira e Brasília saiu de uma prancheta. Um dia tive vontade de conhecê-la até por ser uma obra imaginada por algumas mentes e concebida por inúmeras mãos...
    Não sou mais engenheira e não por coincidência, a vontade passou.Fico triste por isso.

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  2. Cara Olívia! Acho que Brasília ainda merece a sua visita, apesar de tudo. Como eu disse, essa tristeza não tem nada ver com a gente daqui. A cidade, os traços dela, o ineditismo de sua arquitetura, são bem maiores que os velhacos políticos que de vez enquando passam por ela. Venha, Brasília te espera. Vale a pena.

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  3. Maraca,
    Será que também aqui posso te chamar assim??
    Saudade de ter vc perto, viu. Não que eu sinta que vc está longe, pq mora no meu coração pra sempre. Mas, essa saudadesinha de que falo é algo que acredito, não seira capaz de esplicar. É um misto de querer ouvir vc lendo esse artigo, pra mim, ao invés de ter que lê-lo eu mesma. E de inveja daqueles que podem (e como diria o Pael, não é inveja boa coisa nenhuma pq isso não existe. Se é inveja é ruim e ponto final). Sabe meu querido amigo, até a sua voz faz diferença pra mim. Mas, ao mesmo tempo fecho os olhos depois da leitura e imagino como seria te olhar e te ouvir. Voz séria, firme, pontuação impecável. Quase dá para sentir sua indignação legítima que retrata a de todos nós, cidadãos de bem que pagam seus impostos cumprem seus deveres e respeitam os direitos dos outros. Tenho que te dizer do meu sentimento para com essa nova/velha lama da política, que por hora imunda o cenário da capital da República.
    É uma espécie de revolta que se mistura com repulsa e desconforto. E uma pergunta faz eco em meus ouvidos: Será que a política neste País tem jeito?
    Meu amigo querido, fora essa minha necessidade de me manifestar, sobre tudo e qualquer coisa, que vc já conhece. Quero te pedir desculpas por não ter separado um pempo para te escrever antes. Mas veja, isso não significa que eu não seja sua leitora assídua. Então aproveito a oportunidade para te dizer: PARABÉNS, VAI FUNDO!!! Porque o mundo da internet merece conhecer o grande MARANHÃO VIEGAS que tenho orgulho de chamar de meu amigo MARACA.
    Bjo no seu coração.
    KELI MANGA

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