sábado, 7 de fevereiro de 2015

Caçada

Bebel Gilberto

Não conheço seu nome ou paradeiro

Adivinho seu rastro e cheiro

Vou armado de dentes e coragem

Vou morder sua carne selvagem

Varo a noite sem cochilar, aflito
 
Amanheço imitando o seu grito

Me aproximo rondando a sua toca

E ao me ver você me provoca

Você canta a sua agonia louca

Água me borbulha na boca

Minha presa rugindo a sua raça

Pernas se debatendo em seu fervor

Hoje é o dia da graça,

hoje é o dia da caça e do caçador

Eu me espicho no espaço feito um gato

Pra pegar você, bicho do mato

Saciar sua avidez mestiça

Que ao me ver se encolhe e me atiça
E num mesmo impulso me expulsa e abraça

Nossas peles grudando de suor

Hoje é o dia da graça,

hoje é o dia da caça e do caçador

De tocaia fico a espreitar a fera

Logo dou-lhe o bote certeiro

Já conheço seu dorso de gazela

Cavalo brabo montado em pelo
Dominante, não se desembaraça

Ofegante, é dona do seu senhor

Hoje é o dia da graça,

hoje é o dia da caça e do caçador

Bebel Gilberto. De Chico Buarque. Caçada.
Fechando o dia de sábado chuvoso de Brasília.

Nenhum comentário:

Postar um comentário