quinta-feira, 25 de junho de 2020

Diário de pandemia - Nossa língua portuguesa

Moisés Rabinovici
Já faz algum tempo, meus dias começam com o Moisés Rabinovici me enviando, pelo WhatsApp, as manchetes diárias dos jornais do exterior. Rabino (como a intimidade recém conquistada me permite chamá-lo) é um correspondente internacional de longa vivência e expert em Oriente Médio, que tornou-se próximo a mim por conta do trabalho conjunto, na TV Brasil.

Além de traduzir as manchetes internacionais ele as contextualiza, nos fazendo acreditar ainda mais numa versão pessoal do dito popular que sentencia: "Para bom entendedor, uma manchete basta".

Pois hoje, entre as tantas manchetes enviadas estava a da edição impressa do jornal português "Diário de Notícias".

"PAÍSES ENCOSTADOS AO TURISMO VÃO PASSAR AS PASSAS DO ALGARVE"

Li e reli sem encontrar o sentido. Corri os olhos para o restante do texto e percebi que o Rabino, prevendo a falta de entendimento, traduziu a manchete do português de Portugal para o português brasileiro.

"PAÍSES QUE DEPENDEM DO TURISMO PASSARÃO DIFICULDADES ECONÔMICAS" 

Na hora, mandei-lhe uma mensagem:

Querido Moisés Rabinovici. Sua providencial tradução do português de Portugal para o português do Brasil é um pequeno exemplo do oceano que distancia nossa “Língua Pátria” da língua da nossa “Pátria avó”.

Passa um tempo e ele me devolve a escrita: "Pro rádio, ninguém entenderia a manchete do Diário de Notícias, sem tradução. Trabalhei, quando no Oriente Médio, para a rádio portuguesa Renascença. Lá eles me apresentavam, para não passarem vergonha, como o "Brrrasileiro do Medio Oriente". Todo dia recebia da produtora as mancadas que tinha dado. "Seu burro: reunião de cúpula é cimeira; israelense, iasraelita; palestino, palestiniano...". Participava de um programa de entrevistas aos sábados com um título ótimo: "De Fio a Pavio".

São essas diferenças que nos tornam únicos. Nos distanciam e, ao mesmo tempo, nos remetem à nossa origem mesma. Filhos nascidos de uma só raiz.

2 comentários:

  1. Ora, pois. Que grata surpresa participar de seu blog. Para não vir aqui só agradecer, conto-lhe mais. Peguei um táxi no aeroporto de Lisboa e disse: Rádio Renascença. O motorista provocou uma conversa, a qual interrompeu: "Você é o brrrasileiro do Oriente Médio". Aí fiquei rubro de modéstia. Pronto. Abraço, rabino

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  2. Um Atlântico nos separa nesta língua de Camões, Fernando Pessoa e Machado de Assis.

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