quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Carta para Margot

Se estivesse aqui, Margot
faria aniversário hoje. 


Desde que você partiu, Margot, esse país está estranho.
Já teve um pouco de tudo.
Mas, nesses últimos tempos, o que sobra e nos assombra
mesmo é intolerância, Margot.

Se você estivesse aqui, estaria indignada.
Aquela indignação firme e elegante que sempre foi a sua marca. 

Na sua ausência, comadre, uma juventude sem liderança ganhou as ruas.
Uma seleção brasileira perdeu a copa em casa.
Uma eleição estranha, sem viço, atravessou o tempo e nos deixou com a sensação de uma espinha entalada na garganta. 

Nos resta, depois disso, um país dividido entre o incerto e o duvidoso.
Como eu disse, um país estranho. Você não está aqui (ainda bem) pra ver a profusão de mal-feitos cometidos por aqueles que deveriam nos dar exemplos, Margot. 

Nós, que aqui estamos, vamos tentando aplacar a incerteza com a poesia possível.
Com a determinação de quem sabe que é preciso seguir fazendo.
Tudo isso, Margot, deixa o país estranho.
Mas a gente tem suportado. 

Entretanto, querida comadre, desde que você se foi há uma falta imensa do seu
sorriso e da sua mansidão. Da sua ternura. Da sua clareza de ideias.
Pra isso, Margot, infelizmente, não há remédio. 

Talvez, seja por isso que eu tenha resolvido vir aqui te escrever.
Te mirar silencioso nos olhos, nas fotos que insistem em permanecer aqui,
nessa vida virtual, como quem ignora a realidade real.
Como quem pudesse driblar a distância e zombar da morte. 

Por onde quer que você ande, Margot, em qualquer dimensão que seja. 
Saudade, comadre, saudade.


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