Enquanto volto pra casa, sob a chuva, o limpador do
para-brisa me deixa entrever as luzes da cidade. Sensação de ser dono de
Brasília. Poucos carros. Imensidão. Ressaca democrática. Alívio e descompasso.
Faz pouco que terminou a eleição em que Dilma venceu Aécio com
a menor vantagem da história das eleições do país. 51,45% a 48,55%. Visto do
alto de um Brasil de mais de 200 milhões de habitantes, dos quais quase 149
milhões são eleitores, a diferença é um traço, é ínfima, é um grão de areia.
Pensando assim, trafego sobre rodas em um país dividido ao
meio. Meio cheio, meio vazio, como o copo filosofal. Dependendo do ponto de
vista. A noite de domingo, mais pra madrugada de segunda, pede calma, fôlego e
reflexão.
Foi isso o que os dois candidatos trataram de fazer em suas
primeiras aparições públicas. Três palavras são importantes: paz, união e
diálogo. O resto é detalhe. É isso o que nós precisamos agora. Todos.
E, pelo bem do país, devemos nos conter nas redes sociais.
Devemos aplacar nossa ira insana, rejeitar as provocações, fugir de qualquer
preconceito. Devemos seguir orgulhosos de nossas posições pessoais, sem
recorrer à soberba, ao pedantismo, à arrogância.
Um país novo, em construção, é o que temos nas mãos. Um país
que experimentou a dor e o sofrimento, a angústia e o medo, em poucas horas do
dia. Certamente, o hoje foi um dos dias mais longos da história. E o será por
um bom tempo, tenho certeza.
Dilma e Aécio acordaram candidatos. Atravessaram o dia como um
Moisés, em pleno deserto, até se deparar com a imensidão do mar vermelho. Só um
deles sairia inteiro do outro lado. Só um deles terá a missão de conduzir a
massa à margem oposta.
A estrada é longa, o tempo é curto.
A Nação dividida de hoje caminha seus primeiros passos,
trôpega de cansaço, carregada de dor, misto de sofrimento e euforia. Uma nação
cindida ao meio, mas absurdamente disposta a se reerguer da luta com a
dignidade de um país de dar orgulho. Um país uno.
Eis que a chuva passa.
Eis que a noite invade o que restou do dia e em silêncio a
Pátria amada, mãe gentil, acolhe o que restou de nós. De todos nós, filhos
deste solo definitivo, chamado Brasil!
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