quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Inevitável o travor na língua


Pós-noite mal dormida. Pós-manhã desajeitada, pós-tudo, pós-nada.
Ando angustiado pela vontade de falar o óbvio. Pelo menos para mim, o óbvio parece não estar fazendo sentido. E se não o faz, e quando não o faz, compromete o rumo das coisas.

Já me vi assim no passado. Esse eu me assusta como um espelho fantasma. 
Ouço Bethânia a perguntar:

De que serve ter o mapa se o fim está traçado?
De que serve a terra à vista, se o barco está parado?
De que serve ter a chave se a porta está aberta?
Pra que servem as palavras se a casa está deserta?

Sim, soa como trilha sonora do dia.

Tenho o mapa, mas o fim já foi desenhado. Meus horizontes estão todos abertos, mas sinto meu barco parado, enfrentando calmaria incomum e sem data precisa pra passar. Penso ter em mãos algumas chaves de tantas portas que vejo pela frente. Mas todas estão ou parecem estar abertas ao meu redor, independem da minha vontade.

Fechá-las ou transpô-las não é de minha competência. Embora eu as possa.
E perceber isso, me angustia.

Tenho em mente um conjunto de raciocínios que julgo de grande valor. Traduzidos em palavras poderiam apontar caminhos, alcançar soluções, nortear decisões. Mas, por vezes me vejo pregador em deserto. A casa, apesar de cheia, permanece vazia.

Sim, é a trilha sonora do meu dia.  E eu pressinto um vulcão em movimento por dentro. Queria estar sozinho e arcar com minhas decisões. Queria ser dono do meu nariz. Queria estabelecer um limite, um ponto final.

Não está em mim tal alcance. Melhor, eu e minhas decisões não estamos ao meu alcance. Uso o meu melhor equilíbrio para me conter.

Contido, atravesso a rua, cruzo o dia, entro noite a dentro para amanhecer de novo, daqui a pouco. Até quando?

Quem sabe...

Quem sabe…

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