sábado, 30 de novembro de 2013

A Genética da Esperança

Por Matta Machado*

Foto: Andres Alem
          Havia em Ferros uma figura especial: a Esperança Preta. Estimada, podia sem a menor cerimônia entrar e sair de todas as casas daquele lugar. Muito pobre, mansa, suave e engraçada era, como se dizia naqueles tempos, com certa singeleza e algum preconceito, apenas uma Nega Preta.

     Um dia a Esperança viu de volta a Olga.  Ela que se mudara para Belo Horizonte ao ficar viúva, revisitava sua terra, após longa ausência. Em Ferros, por muitos anos, viveram ela e um funcionário da Coletoria Estadual, o simpático e sorridente Jujuca. Não tiveram filhos.

     Agora Olga trazia uma criança, por coincidência, filho de outro Jujuca, seu novo companheiro. Vendo o menino, Esperança exclamou:
     - É a cara do Jujuca! - Ao que Olga esclareceu:
     - É filho de outra pessoa, também chamada Jujuca. Não daquele que você conhecera.

   Esperança, com doçura, mas toda autoridade, explicou-lhe então:
     - Eh, minha filha, mas dele ficou uma **rema...


     **de remanescente.

    *Matta Machado é um grande cronista mineiro. Nas horas vagas, quando não escreve, ele cuida bem dos olhos dos outros. É oftalmologista de mão cheia (ou, melhor seria, de olhos cheios). Um apreciador de boa música e memorialista nato, um dos grandes contadores de causos que conheço.                                               

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