Por Matta Machado*
Foto: Andres Alem |
Havia em Ferros uma figura especial: a
Esperança Preta. Estimada, podia sem a menor cerimônia entrar e sair de todas
as casas daquele lugar. Muito pobre, mansa, suave e engraçada era, como se
dizia naqueles tempos, com certa singeleza e algum preconceito, apenas uma Nega
Preta.
Um dia a Esperança viu de volta a Olga. Ela que se mudara para Belo Horizonte ao ficar
viúva, revisitava sua terra, após longa ausência. Em Ferros, por muitos anos,
viveram ela e um funcionário da Coletoria Estadual, o simpático e sorridente
Jujuca. Não tiveram filhos.
Agora Olga trazia uma criança, por
coincidência, filho de outro Jujuca, seu novo companheiro. Vendo o menino, Esperança
exclamou:
- É a cara do Jujuca! - Ao que Olga esclareceu:
- É filho de outra pessoa, também chamada
Jujuca. Não daquele que você conhecera.
Esperança, com doçura, mas toda autoridade, explicou-lhe
então:
- Eh, minha filha, mas dele ficou uma **rema...
**de
remanescente.
*Matta Machado é um grande cronista mineiro. Nas horas vagas, quando não escreve, ele cuida bem dos olhos dos outros. É oftalmologista de mão cheia (ou, melhor seria, de olhos cheios). Um apreciador de boa música e memorialista nato, um dos grandes contadores de causos que conheço.
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