quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
Um risco no céu
Em 2008 coordenei uma campanha de prefeito em Montes Claros, Norte de Minas. Foi a minha segunda campanha em terras de Darcy Ribeiro. Há alguma coisa especial, mais intensa que política, por aquelas plagas. Ali, no sertão onde o velho Guimarães Rosa deixou pegadas e sonhos, as noites têm um barulho próprio de mato invadindo a cidade. E um cheiro de terra molhada que remete a quase sempre à infância.
No frenesi das campanhas, as noites passam e a gente não sente. Troca-se a noite pelo dia. E, às vezes, troca-se também o dia pelo dia quando o “dead line” aperta. Nas poucas horas em que havia sobra de tempo, corríamos pra algum lugar diferente das ilhas de edição ou dos estúdios de gravação. Pequenas incursões gastronômicas.
Fazíamos os mesmos movimentos dos outros estrangeiros, das campanhas adversárias que estavam na cidade – diretores, cinegrafistas, editores, repórteres, publicitários, produtores. Todos em busca de um fôlego. Uma pausa nas propostas, projetos e promessas de campanha. Não por coincidências, era comum nos cruzarmos.
Nas mesas de bar ou nos restaurantes nós, de campanhas diferentes, éramos iguais. Iguais no cansaço, iguais na alegria besta, iguais. Fugazmente, iguais. Não havia espaço para discordâncias ideológicas de qualquer timbre.
Agora há pouco, Soraya me ligou lá de BH. Pra avisar que um dos nossos iguais, o Luis Sander, que foi diretor de uma campanha adversária à nossa, já não está mais entre nós. Foi vítima de um acidente de carro no Parque do Rola Moça, na BR 040, nesta quarta-feira.
A intimidade fugaz das noites de campanha em Montes Claros. Tempo suficiente para perpetuar uma ausência de quem deixou rastro de olhares iguais. Tempo suficiente pra quem virou um risco incandescente no céu.
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Ah, Maranhão, lembrei de mim em campanhas, em terras estrangeiras sempre, Campo Grande, Dourados, Ponta Porã, Juazeiro, ralando muito e fazendo as excursões e incursões gastronômicas nas cidades e arredores... vinhos no paraguai e o prazer de conhecer tanta gente nova e tanta gente boa. Saudades de Ane, (tá na Itália) de Márcio Borges (irmão do Lou, que não vi nunca mais), de Marcinha (que não está mais neste planetinha maluco)... fico igual a vc... saudade, saudade, saudade!
ResponderExcluirGrande Maranhas!! campanhas são uma extravagancia na rotina de qualquer vivente, é uma tormenta, uma satsfação e de certa forma uma gincana. foi breve nossa passagem amigo, nossa governadora Yeda esse ano vai d novo!! hehe
ResponderExcluirAbração do amigão
Felipe KLovan - POA/RS
lindo texto.
ResponderExcluirque mais poderia esperar seu amigo, além de se transformar nesse risco no céu?
linda homenagem
Me emocionou, expõe nossa fragilidade humana.
ResponderExcluirLindo texto.
Muito legal Maraca, abração amigão...
ResponderExcluirGrande Maranhão
ResponderExcluirNão sei se consegui enviar meu comentário. Acho que ainda sou um analfabeto cibernético - Saudades da minha Lettera. De todo modo. Quem disse que a efetividade da política não pode caminhar com a poesia. Voce é a prova viva disso.
Por mais distantes, nunca estivemos separados. A nos unir: A saudade. Espero encontra-ço em breve. Não nos vemos, creio que logo após a morte do meu irmão Gonzaga.
O importante agora, é não nos dispersarmos. O Brasil precisa da gente, mais do que nunca.
Gente que faz com competencia e poesia.
Parabéns, meu irmão.
Abraços
Euclydes Bezerra
Oi Euclydes! Grande amigo. Obrigado pelas palavras e pela possibilidade do reencontro virtual. Não nos perderemos. Abraço.
ResponderExcluirOlá Maranhão,
ResponderExcluirseu texto, como sempre primoroso, me lembrou um trecho do clássico "O pequeno príncipe", de Antoine Saint Exupéry:
"Quando olhares o céu de noite, porque habitarei uma delas, porque numa delas estarei rindo, então será como se todas as estrelas te rissem! E tu terás estrelas que sabem rir!"
Boas lembranças de Montes Claros. Forte abraço.
Sander sempre foi um bom amigo meu, mesmo quando "inimigo". Belo texto.
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