Dr. Matta Machado |
Meu Oftalmologista preferido, Dr. Matta Machado, não só é bom cuidador dos olhos. É bom de memória, apreciador e profundo conhecedor de música clássica, escrivinhador bissexto (já disse que ele seja menos rigoroso e mais poeta, que saia dessa condição lítero-reclusa, nós merecemos o seu bom texto) e, por isso mesmo, de vez em quando nos premia com uma linhas saborosas.
Dia destes, me escreveu. Prosa rápida, mineira e certeira, que divido com vocês agora. Vai que é tua, Matta Machado!
Querido
Maranhão Viegas,
Relembrando-me de uma passagem, lembrei-me de você.
Da
Costa Santos
Por Matta Machado
Meu
pai tinha um amigo de BH, o Da Costa, que se dizia muito orgulhoso
de sua Amarante e poeta maranhense.
Papai, vindo visitar-me, reencontrou-se
com ele em Brasília. Era 1964 e o lugar, o "Bar dos
Amigos", ficava na 510 Sul. Ponto de encontro que o velho
Matta, boêmio e verdadeiro poeta, gostava de chamar de "Bar
dos Inimigos".
Como era tempo da ditadura, então chamada de Revolução,
espalharam verdadeiro terror e repressão a todas as atividades
camponesas. Meu pai brincava, fingindo desafiar essa
"Revolução":
- Hoje farei uma reforma agrária.
- Gritava ao
garçom:
- Vou tomar Três Fazendas! (pinga da época).
À tarde, assentados numa
das dezenas de mesas ainda desocupadas àquela hora, vejo o Da Costa,
chegando do mictório. Irônico, com um meio sorriso sem graça,
mostrava a mão a embalançar e dizia-nos:
- Tinha um sujeito no banheiro
me gozando. Olha só o que ele me disse :
"Que velho safado, batendo
punheta!"
É...! Se sabíamos todos que o Da Costa tinha Parkinson, nunca poderíamos imaginar no quê daria a "Revolução".
Nenhum comentário:
Postar um comentário