quinta-feira, 24 de outubro de 2013

A China é uma viagem


Celso Grecco

Celso Grecco é um dos grandes amigos que a vida me deu. Na semana passada ele embarcou para uma jornada de dez dias, na China. Evidente que eu não pude resistir à ideia de um correspondente do blog no extremo oriente. Celso topou e acaba de chegar de lá a primeira carta/boletim, que prazerosamente, divido com todos vocês.  

Caro Maranhão, 

Você tem muitas razões para vir à China. Mas como vai preferir me falar das razões que te impedem de vir, vou me concentrar nelas e te provar que está errado. 

1. Não tenho dinheiro 


Não é caro. Uma passagem de São Paulo para Pequim, ida e volta, com várias opções de escalas pelo meio do caminho (Dubai, África do Sul, Madrid, Canadá) que você aproveita para passar pelo menos 1 dia na ida ou na volta para conhecer, custa R$ 3.500,00 em 5 parcelas de R$ 700,00. Saindo do mesmo aeroporto e conforme a data, você vai pagar R$ 2.000,00 para ir a João Pessoa, R$ 2.500,00 para Belém do Pará. Em Junho, pagará R$ 3.000,00 para ir de ponte aérea ao Rio de Janeiro. Melhor China...

2. Não falo inglês


Não tem problema, aqui ninguém fala também. Estou num Hotel 4 Estrelas, de instalações muito boas (tem até privada no banheiro), quarto muito bom, tipo hotel de gente viajando a negócios. E ninguém na recepção fala inglês. Nem vou lhe dizer sobre restaurantes ou lojas de Shopping, onde também não se fala inglês. Muito mal, com raras exceções, arranham a língua. Já naquele lugar que vende as camisas Armani de 10 reais e onde você encontra uma legítima loja FERRERRI (Ferrari) completíssima com roupas da escuderia, capacetes, canecas, casacos, canetas, brindes, chaveiros, lembranças, todas elas ostentando o famoso logotipo do cavalinho... ou seria um dragãozinho? Bom, veja você mesmo na foto anexa e tire suas conclusões. 

3. Aprecio arte, mas não a chinesa 


Sem problemas! Vou te levar a uma galeria que exibe reproduções do famoso auto retrato de Van Gogh. De orelha. Veja você, crítico insensível dos chineses, que eles apreciam a arte desde há muito tempo, desde quando Van Gogh tinha orelhas. As duas. Não é fantástico? 

4. Não sei se vou gostar da comida 


Gostar ou não gostar de algo pressupõe conhecer. E disso meu amigo, você estará livre. Porque ao entrar no restaurante, no máximo vai conseguir pedir o prato pela foto. A chinesa vai sorrir satisfeita com o seu pedido e alguns minutos depois, algo mais ou menos parecido com a foto, mas bem diferente, vai chegar na sua mesa. Você vai experimentar e continuar desconhecendo, cada vez mais, a comida que pediu. Não tem sal, nem saleiro que possa pedir. Há algo ali boiando que você juraria que é a orelha do Van Gogh, mas péra lá, se ele estava com as duas conforme você mesmo testemunhou no quadro que acabou de ver, deve ser outra coisa. Não seja preconceituoso. Tente conhecer a comida antes de formar uma opinião sobre se gosta ou não. Como vai demorar para conhecer, pense em outra desculpa. 

5. Acho a filosofia chinesa complicada


Outro mito. Aprendi um ditado famoso na China, ensinado com muita reverência e que diz: "Quando chove, chove". Que simplicidade! Que clareza! Que beleza! Não me recordo o nome do sábio que proferiu a frase, mas parece que é o mesmo autor de "quando é de noite não tem sol" e "quando entra na água, molha". Essas duas últimas um pouco mais complexas, reconheço. Mas ainda estou inebriado pela primeira enquanto procuro entender a segunda e a terceira. 

Enfim meu amigo, a China é uma Viagem, literalmente. Se der mando mais notícias. 

Abraço, Celso.

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