Innocêncio e Isabel: Quarenta e dois passos, sobre uma lajota. "Na chincha"! |
Casei-me com a Bel em 1962 e já se passaram mais de cinquenta anos bem vividos. Eu, quando solteiro, em plena juventude, dançava vez por outra e até me saía bem. As más línguas diziam que eu chegava a fazer quarenta e dois passos de um tango, sobre uma lajota. Pura maldade, inveja da turma que não sabia balançar o esqueleto.
Bel não gosta de dançar agarradinho, diz que assim, erra o passo e eu só danço no "arrocho", "na chincha".
Passamos a vida assim. Dançamos uma vez, passamos um bom tempo sem dançar. Voltamos a dançar, e nisso, a penúltima vez que dançamos foi na comemoração das Bodas de Ouro do mano Jair Félix e da cunhada Lizete. Foi uma festa supimpa. A orquestra fenomenal. Boleros antológicos, canções eternas, tangos imortais, rumbas de Ruy Rey com o som lá do Caribe, fox-trot à moda Sinatra e a valsa vienense da coroação da festa.
Hoje, nós na cozinha preparávamos o almoço. A Bel tratava o peixe - uma corvina - e eu cuidava do vinagrete. A TV mostrava o programa da Fátima Bernardes - Encontro - e na telinha o violinista holandês André Riê, com a sua famosa orquestra.
Logo o maestro tocou uma conhecida valsa. Linda, convidativa. A Bel, sem avisar, me agarrou e já saímos dançando. Lembrei-me logo dos velhos tempos e já a "chamei na chincha".
Ela me empurrou e disse - não me apertes! Reduzi o aperto sem, soltar a prenda. E a valsa continuava e nós, bailando.
O espaço era pequeno. Estávamos entre o fogão, a mesa de jantar, algumas cadeiras, o balcão da pia com o peixe que nos olhava piedosamente, com inveja. Sobre a mesa, cebolas, tomates, limão, cheiro verde, alecrim, a faca, a tábua onde corto os temperos, o azeite de oliva, o sal, o vinagre balsâmico e uma toalha de mão.
Nós continuávamos dançando. Mas o tempo na TV é muito curto e logo a "parte" acabou. Comemoramos.
O almoço foi divino. O peixe muito gostoso, que só a Bel sabe fazer. Servi-lhe o suco de caju. Abri uma garrafa de um bom vinho branco, seco, como manda o figurino e degustei o néctar dos deuses. O resto do dia foi maravilhoso.
Ah! Quase esqueci de lhes dizer o nome da sublime valsa: Danúbio Azul. E a nossa dança? Ora, a dança foi... "na chincha"!
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