Caro leitor.
Para compreender o texto a seguir, sugiro que leia a postagem anterior. Mas se o tempo for escasso, eu encurto a explicação:
Na metade dos anos 80, do Século passado (putz, dito assim, dá um peso!) eu estive diretor de jornalismo da afiliada da TV Globo, em Mato Grosso do Sul, TV Morena. Um dia, atendi um jovem estudante que queria me ouvir sobre a profissão de jornalista.
Esse menino cresceu e ontem, assim sem aviso prévio, me mandou uma mensagem pelo facebook, que me fez voltar no tempo e roubar alguns minutos do dia para fazer o que continua sendo um dos meus maiores prazeres - escrever.
Buenas!
Cezinha Galhardo (como ele assina) deve ser uma alma boa e um bom profissional. Escrevi pra ele umas curtas linhas confessando a falha no meu disco rígido (que não conseguia resgatar as cenas daquele encontro do passado) e me dizendo emocionado com a mensagem dele. E também, querendo saber mais. Sobre a vida dele e sobre aquele instante em que estivemos juntos, lá na redação da TV Morena e que acaba de ficar perpetuado em nossa memória.
A resposta dele é um primor. E eu tenho que dividir com vocês.
Obrigado, Cezinha! Um grande e caloroso abraço.
A! E mais: A casa aqui (no blog) é sua.
Escreva sempre que tiver vontade.
Esticando as linhas
por Cezinha Galhardo
Sabe
quando você espera que do lado de lá volte um sinal de fumaça como resposta?
Então... recebi uma apresentação da esquadrilha da fumaça.
Putz,
Viegas!!! Não é à toa que a Fabi me disse adorar seus textos!
Hoje trabalhamos
juntos na comunicação institucional em um órgão público: somos os publicitários
rodeados por jornalistas. Ela trabalha com produção e fotografia e eu cuido do
visual. Nos divertimos bastante.
Vou
te contar como nosso encontro aconteceu, pelo meu olhar:
Era um trabalho de
escola, onde existia uma força de incentivo para que os alunos começassem a
pensar no seu futuro profissional, afinal querer ser astronauta quando crescer
já não valia mais. A sala foi loteada em grupos e nosso ficou com a profissão
"jornalista". Na minha cabeça, profissão era ser médico, dentista,
alfaitate, açougueiro... mas e jornalista? O que que esse rapaz faz? Pra mim
jornalista, até então, era o apresentador oriental do jornal local e o Cid
Moreira. Mas, ok.
Ligo
na TV Morena e vejo se há a possibilidade de um jornalista me atender, numa
hora vaga (hahahahaha!) para responder a algumas questões de um trabalho de
colégio. "- Sim, pode vir. Ao chegar procure por Maranhão Viegas".
Pronto! Lá fui eu ansioso para a entrevista. Não tinha nenhuma ideia que eu ia
entrevistar quem entrevistava os outros. Se tivesse essas preocupações adultas
em mente, talvez teria sido um total desastre, afinal eu nunca tinha feito
aquilo.
Dizem
que quanto mais básicos são os sentidos, mais tempo as impressões ficam na
memória. Pois é. Entro na redação da TV Morena e a imagem que tenho é de um
ambiente levemente enfumaçado, de coloração amarelo-esverdeada, cheio de mesas
e pessoas andando de um lado para o outro com papéis na mão e cigarros na boca.
Nas
mesas não me lembro de computadores, mas sim de Olivettis, Remingtons e
similares, somadas a papéis, canetas e cinzeiros. O som era o constante tec-tec
das máquinas de escrever e o falatório da turma, vez ou outra interrompido pela
voz de alguém que chamava a atenção dos colegas para algum assunto.
O
aroma de nicotina parecia minar de todos os objetos que me cercavam, misturado
com um tom de madeira e couro.
A
nossa conversa começou com um gravador, desses de fitinha, em cima da mesa,
onde disse que depois escreveria o que nós conversaríamos. Foi quando você,
gentilmente, perguntou se eu não me incomodaria de conversar em meio ao trabalho, já
que vc tinha que resolver um problema da pauta (!?). Por mim ok, não queria
atrapalhar o que quer que você tivesse que resolver com essa moça, afinal, ela
devia ser importante ali.
Lembro
que nossa conversa ter durado cerca de meia hora, pois eu sabia que esse era o
tempo que cabia na fita minicassete. As questões foram acerca da natureza da
sua escolha de jornalista como profissão, e também de como era ser um
jornalista.
Não é a toa que não se recorde do nosso encontro, afinal eu era uma
esponja seca caindo de pára-quedas ali e você tinha que cuidar dos seus
afazeres profissionais, além do xereta na sua frente.
Suas
respostas eram em parte de frente pra mim, e em parte de lado, pensando e
digitando com apenas 3 dedos de cada mão (e muita velocidade). Aliás, ficava
imaginando "- Puxa, se ele digitasse com todos os dedos seria muito mais
eficiente". Anos depois, ao conhecer a frase dita por Antonio Maria "- Tolos! pensam que escrevo com as
mãos!", lembrei-me da imagem de te ver digitando aquela barulhenta
máquina de escrever, na hora, e da ignorância do meu pensamento.
Analisando
hoje, vejo que as respostas mais importantes que eu tive não estavam no
gravador, mas fora dele. Eu vivi, durante meia hora um pouquinho do que é ser
um jornalista e trabalhar na redação de um jornal. Obrigado por me proporcionar
isso.
Falando
um pouco de mim, fui estudar em Campinas, onde concluí o curso de publicidade e
propaganda.
Depois,
devido a um cliente, me mudei para São Paulo, onde continuei meus estudos por
lá e casei. Montei um estúdio de design gráfico, onde sou desde o proprietário
ao motoboy. Trabalhei com muitos jornalistas, mas sempre dentro da área visual
(padrão jornalistico, capista, etc).
Voltei
para Campo Grande a 3 anos, para trabalhar com comunicação institucional
(sempre visual). Continuo atendendo os clientes de fora, mas morando aqui, o
que ajudou a interromper a queda dos meus cabelos.
Se
passar por aqui, será um prazer nos encontrarmos para "um chopes e dois
pastel". Aposto que a Fabi vai curtir a ideia, também.
A
propósito, tirei 10 no trabalho, obrigado!
Um
abração!
Cezinha
Galhardo
Sim. Cezinha Galhardo é uma alma boa. Talvez a melhor dentre tantas que conheci ao longo da vida (até agora).
ResponderExcluirTudo bem, sou suspeita p/ dizer (sou sua esposa), mas...vendo como foi importante p/ ele esse resgate e o quanto isso tudo o fez feliz (quando cheguei em casa hj ele não via a hora de me colocar diante do computador p/ participar disso), pude ter a certeza de que nessa vida, vc pode ser feliz com coisas que parecem "pequenas" aos olhos do mundo, mas que são enooooooooooormes a quem tem "alma boa".
Simplesmente...uma história incrível entre um "menino" (na obrigação de um trabalho escolar) e um um profissional entretido com seus afazeres, mas que teve a "boa alma" de render 30 minutos de fita, ainda hoje "ouvidos" com o coração.
A emoção não foi só sua, caro jornalista Maranhão Viegas. Obrigada por compartilhar conosco.
Alessandra Galhardo.
Que delícia de carta-resposta!
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