No início da década de 70, meu pai e minha mãe abriram uma pequena mercearia. Era uma forma de completar a renda da família. Ele, militar. Ela, professora. Meu avô, eu e meus irmãos tomaríamos conta do negócio. Mercearia Maranhão, foi batizada.
Era uma mercearia modesta. Plantada na Vila Paraguaia, em Foz do Iguaçu, local onde vivíamos. Ocupava a parte da frente do terreno onde estava a nossa casa. Era um negócio familiar. Construímos em conjunto, cada uma das peças da mercearia. O balcão, as prateleiras, a pintura das paredes, a colocação das lâmpadas e, por fim, a arrumação das mercadorias, tudo, teve a nossa participação direta.
Havia um pouco de tudo. E não demorou muito para que tivesse uma clientela fiel. Dessa época, me lembro que eu chegava da escola e ia tirar o meu turno de trabalho. Sobre o balcão frigorífico, onde estavam as bebidas e o leite pasteurizado em saquinhos, havia uma vara de madeira atravessada, sustentando um tesouro culinário sem par: lingüiças.
Lembro do cheiro e do sabor daquelas lingüiças como se fosse agora. Elas matavam a minha fome nas jornadas vespertinas. E guardaram um perfume eterno em minha mente. Hoje, vasculhando a internet, encontrei um texto sobre o fechamento de uma mercearia, em Lisboa. O texto está postado num blog que se chama "Dias que voam". Um cantinho delicioso da internet, onde costumo me alimentar de idéias e, desde já, recomendo a vocês.
As fotos da mercearia portuguesa (todas que ilustram este texto) me remeteram aos tempos da Mercearia Maranhão. As cores são outras, o lugar é outro, mas guardam uma identidade perfumada, capaz de provocar uma saudade e uma dor no peito quase impossíveis de descrever.
Velhos tempos, belos dias.
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