Manoel de Barros. Foto: Alexis Prappas |
Quando eu nasci, minha avó me queria Bernardo.
Meu Bernardo não vingou, a não ser no querer de minha avó.
Virei Inorbel, depois, Nuca, depois Maranhão. Por
fim, transformei todos eles
eu um só, justo o que sou hoje.
Bem mais tarde, conheci Manoel de Barros e descobri que o seu
alterego se chamava Bernardo. Um dia, Manoel me apresentou o seu Bernardo e eu,
emocionado, enxerguei a imagem de um menino correndo solto, na beira de um rio
que lambia o fim da tarde.
Nesse dia, tive a impressão de ver minha avó sorrir, de braços
dados com o acaso.
Foi quando a inutilidade bela do mundo de Manuel invadiu
minha alma.
Pra
sempre.
(Recado escrito para Manoel de Barros, a pedido de Rodrigo Teixeira e publicado no Jornal O Estado MS, edição desta quinta-feira, 19.12.2013, dia em que o poeta completa 97 anos de poesia.)
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