Isabel, minha irmã, e Marcelo, marido dela, estão no extremo norte do planeta, em busca de ver a Aurora Boreal. Eles dizem que estão de férias. E a gente acredita que sim. Mas, no fundo, desconfio que os dois estejam mesmo é em busca de uma boa aventura.
Há dias (ou noites) eles tentam ver esse fenômeno fantástico. Ontem, eles conseguiram (como dá pra ver ai nas fotos, no post anterior). Há pouco, a Isa me mandou um relato dessa parte final da aventura. Me diverti com o seu texto e descobri que tenho uma forte concorrente a escritora na família. O texto está uma delícia e a aventura é de encher os olhos ou de esfriar os ossos! Confira ai:
Marcelo e Isa |
A segunda
tentativa prometia. A nossa guia Mariana foi super bem recomendada nas resenhas
de outros viajantes que fizeram o passeio para Tromso. O dia, porém, estava
cinzento além do normal. Já na saída do hotel a neve e o vento começaram a
ficar mais fortes.
Mariana é do tipo que vai atrás da Aurora. Se um lugar não
está bom, segue para outro e assim passa a madrugada. É um passeio de aventura.
O grupo todo estava em duas vans, na outra, o guia era o George, pelo que
entendi, é polonês, e pelo que não entendi confirmei isso. O sotaque
"arretado" do inglês quase incompreensível denunciava. No final de
cada frase vinha logo um "okay???" Quem entendeu, bem, quem não
entendeu "okay!"
Rumo à estação Finlândia. |
Saímos do hotel às 17:30, com a noite já presente.
Percorremos uma distância enorme, mais especificamente, atravessamos a
fronteira com a Finlândia (jamais imaginei isso!) para achar um buraco nas
nuvens e um tempo menos pior . O vento era de matar. Numa das descidas do
carro, perguntei a temperatura, Mariana logo respondeu: - Não tá frio não, é só
o vento.
Então tá, meu frio era psicológico e não me deixava sentir mais os
pés. Ah meu Deus, se isso não é frio, então o que será que vem pela frente?
Detalhe é que a essa altura já estávamos devidamente aquecidos nas roupas de
"caçar a Aurora", confiram nas fotos. Debaixo daquilo tudo, tem
sempre alguma parte do corpo que reclama do frio. mas era psicológico. Então, vamos lá.
Passamos pela fronteira com a Finlândia e continuamos mais alguns
quilômetros. Nada da aurora. Paramos em
uma clareira, deu até pra ver as estrelas por uns instantes. Causou-me
admiração tamanha competência da Mariana. Achou um céu aberto no meio de tanta
neve caindo. Mas durou pouco. Serviu um chocolate quente, esperou um pouco e
achou melhor ir voltando.
Estacionados na neve. |
Já se fazia
alta madrugada e percebemos que enquanto fugíamos da neve na ida, ela caiu sem
dó e nos pegou na volta. Em um ponto da estrada ficou impossível passar.
Literalmente ficamos parados na estrada. Pense: Alta madrugada, na Finlândia,
dentro de uma van com mais 5 pessoas, esperando pelo trator de limpar neve. Não
era eu! Se já não tinha dormido antes, agora então, nem pensar. - Marcelo,
estamos atolados! - Não se preocupe, Isabel, estamos na Finlândia, estão
acostumados com isso, logo o socorro vai chegar. Okay! Vamos acreditar.
Os aventureiros na noite da Finlândia. |
A
Mariana, segura da situação, providenciou tudo, chamou o socorro, a cada minuto
queria saber se alguém estava passando mal. Eu? Tô ótima! Aqui é a Finlândia, o
socorro já, já vai chegar! Duas horas depois, chegou o trator, limpou a estrada
e...e foi embora. Então vamos também, não é? Não, não é! Eu falei que estávamos
parados, não é? Pois é, durante o tempo
que esperamos a neve caiu de verdade, uma camada de meio metro ao nosso
redor e a van estava mesmo atolada. Desce todo mundo que puder ajudar, os
outros entram na van do George.
É claro que eu estava no segundo time! Imagine,
ficar do lado de fora, com esse vento, esse frio todo, afundando em neve, não
tô podendo nem me ajudar...Mas psicologicamente valeu a torcida. Desatolamos e
conseguimos voltar. A fronteira com a Finlândia estava fechada. Mais algumas
horas dentro da van. Lá vem o George. Abriu a porta e um sorriso largo, e fez
uma perguntinha capaz de quebrar o gelo: - Whisky??
Casinhas de sonho. |
Demorou mais um bocado até
que a fronteira abriu, todos exaustos, uns pela preocupação, me incluo nestes,
outros pela situação, o caso dos guias, e outros ainda, porque perderiam o voo
para Oslo que seria cedo, caso do casal de Singapura, que tentava manter aquela
calma oriental.
Paisagens de história infantil. |
Árvores de Natal de verdade. |
Voltamos passando por lugares bonitos, completamente cobertos
pela nevasca, lagos congelados, árvores de Natal de verdade, casinhas
bonitinhas, paisagens só antes conhecidas pelos livros de estórias infantis. Fomos
brindados com um amanhecer inigualável. Não vimos a aurora nessa noite, mas ela
vai ser inesquecível pra mim.
De volta à Noruega. |
Antes de
terminar o tour, pelo menos uma vez compreendi o que dizia o George, acho que
na tentativa de se redimir por tamanha ousadia na aventura conosco. Foi quando
paramos num posto de combustível, George abriu a porta da van dizendo:
-
Sthkhklajhdkjfdkjflkdmeisnoifsdkjfreehotschokolatenorkafe! Okay???
- Okay!!!
Que delícia de crônica e as fotos são para desejar um teletransporte. Viagem linda.
ResponderExcluirEi, Maranhão!! A Izabel é uma ótima contadora de história! Eu a-do-rei!!! Que aventura, gente! E que fotos! Conta mais, Bel!
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