quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

A turma

*Manoel de Barros

Bernardo, de Manoel.
A gente foi criado no ermo igual ser pedra.

Nossa voz tinha nível de fonte.

A gente passeava nas origens.

Bernardo conversava pedrinhas 
com as rãs de tarde.

Sebastião fez um martelo de pregar água 
na parede.

A gente não sabia botar comportamento
 nas palavras.


Para nós obedecer a desordem das falas

Infantis gerava mais poesia do que obedecer
 as regras gramaticais.

Bernardo fez um ferro de engomar gelo.


Eu gostava das águas indormidas.

A gente queria encontrar a raiz das 
palavras.

Vimos um afeto de aves no olhar de 
Bernardo.


Logo vimos um sapo com olhar de árvore!

Ele queria mudar a Natureza?


Vimos depois um lagarto de olhos garços
beijar as pernas da Manhã!

Ele queria mudar a Natureza?


Mas o que nós queríamos

é que a nossa 
palavra poemasse.”

Manoel, de Bernardo. 

*O mais recente poema de Manoel de Barros, escrito neste ano da graça de 2013.

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