quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Margot. Uma saudade.


Não me lembro direito quando foi a primeira vez que a vi. Lembro que desde aquele dia, nunca mais minha vida foi igual.

Para os meus olhos, doidos por ela, Margot - Margarida Gomes Marques, carregava aqueles cabelos brancos, reluzentes, que lhe conferiam altivez, elegância, beleza e maturidade. A dignidade, nela, era uma espécie de segunda pele. Havia sempre, e muito, e tanto que a gente costumava ficar encantado com aquilo.

Ela esteve presente quando o Estado novo foi criado. Foi lá por 79. O Mato Grosso se dividia em dois. Nascia o Mato Grosso do Sul. Ela ajudou a contar a história daquela gente, enchendo as páginas dos jornais por onde passou, com histórias de vida tão distintas quanto a dela.


Gaúcha, comunista desde criancinha e com um senso de justiça e solidariedade incomparáveis. Quando a conheci, estava no auge. Tinha carro, casa com piscina, mas não ligava muito pra isso, era desapegada dos bens materiais.


Mas era apaixonada pela arte. Sua casa mais parecia um museu. Um Louvre particular composto por peças, em sua maioria, feita por gente conhecida. Margarida não tinha dinheiro pra comprar arte. Mas o seu respeito pelo artista, a compreensão da sua importância e a sua capacidade de agregar eram plenamente reconhecidos e recompensados.  Gratidão em forma de quadros.

Seus quadros na parede não eram quadros na parede. Eram o espelho dos próprios artistas, um pouco da alma de cada um deles transfigurada e entregue, de coração, para enfeitar os dias e noites das casas onde ela habitasse. Ah, as casas da Margarida...


Ela passou por várias. E todas elas tinham em comum a mesma energia agregadora. A casa de Margot era ponto de encontro. Ponto de partida de movimentos sociais. Ponto de chegada de amores e paixões. Ponto de mutação para vivências políticas, filosofias e loucas utopias.


Com Margot bebi alguns dos melhores vinhos da minha vida. Não pelo preço, pela casta, pelo corte da uva ou pela origem, não. Os vinhos que bebemos juntos foram alguns dos melhores da minha vida pelo sabor da companhia. 

Na companhia de Margot, ri, chorei, vibrei, perdi, venci, amei, fiz poesia, falei bobagem... E ela, sempre ali, temperando as minhas emoções, me ajudando a ver o horizonte sob um outro prisma, segurando a minha mão, me acolhendo.

E eu penso ter retribuído com a minha fidelidade, com o meu amor, com a minha amizade. Margot era mais, era minha comadre. Madrinha de minha filha Mariana. Margot era da família. Aquela família que a gente escolhe, que junta com o passar do tempo e que é para sempre.

Quando mudamos para Brasília, Margot foi de longe a pessoa que mais vezes nos visitou. Quando vinha, era uma alegria. Vinha para descansar, ganhava livros e café na cama.


Hoje, se ainda estivesse aqui, Margot estaria de aniversário. 11 de dezembro. Hoje, 11.12.13, essa estranha combinação numérica, me fez acordar prestando atenção no dia e pensando várias vezes nela.

Sua página no facebook continua ativa. E ela ainda recebe mensagens de quem desavisadamente ainda acha que ela esteja entre nós. No meu caso, acho que ela está sim, por perto.

Por isso escrevo. 
Pra falar do que sinto e do que ela foi e do que sempre será.
Uma amiga, um amor, um quadro de arte  na minha parede emocionalOnde quer que você esteja, Margot, um brinde e um gole do meu melhor vinho. 

Um comentário:

  1. Lindo, como só quem ama pode escrever e descrever. É o coração que desenrola as palavras, feito um tapete para passar. Um tapete vermelho para Margot.

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