Anunciação
Por trás da janela da minha cozinha um naco de sol avisa: O
dia está chegando. O passarinhedo alvoroçado também é sintoma de amanhecer. O
cheiro de café invadindo o ambiente, pão fresquinho com manteiga, o jornal sobre
a mesa, o colorido das flores. É a natureza sábia, dizendo aos quatro ventos, a
primavera, lá vem ela!
O barco
Meu avô, Opílio, era dono de um barco. Chamava-se “Bela
Rosa”. Acho que vem dai essa minha paixão pelo mar. O “Bela Rosa” cortava a
baía de São Marcos, entre Alcântara e São Luis trazendo carvão e frutas. E
voltava levando caprichos da “cidade grande”. Eu só conheci aquele barco pelas
falas de meu avô e na minha imaginação de menino. Mas lembro, em detalhes, de
cada uma das viagens imaginárias que fizemos juntos.
O amor madrugueiro
O telefone toca alertando - chegou mensagem. Era perto de
meia-noite. Era um bilhete eletrônico de amor. Maurinho, incontido em sua
alegria, comunicava o reencontro dos olhos dele com os de Clarice. Estiveram
afastados por uns tempos. Percorreram ruas distintas, por esse imenso Brasil.
Por um tempo, choveram solitários em alguns cantos do mundo. Havia uma tristeza
mansa nos olhos de Mauro, sem Clarice. Imagino que deve ter sido assim também
com ela, nesses dias de distância. Mas se reencontravam agora, com o mesmo
olhar amoroso do dia em que se viram pela primeira vez. À beira da madrugada e
ao sabor de um vinho. Um Primitivo di
Mandúria que eu lhes havia dado para brindar uma ocasião especial. E não é
que foi? Fecho os olhos e retomo o sono. Como se não tivesse sido interrompido.
Embalado pela lembrança do vinho e pelo amor madrugadeiro, que consta uma vez
mais, no olhar de Mauro e Clarice.
O mundo amanhecendo
Da janela do meu computador alcanço as manhãs do mundo. As
de lá, de nem sei onde, são parecidas com as daqui, de onde sei bem. Cobertas
de frescor e vida. Cheias de esperança e afeto. Um exercício natural e
contínuo, em busca de uma harmonia incomum. Algo mais fácil de se encontrar nos
dias primaveris, quando a mente está mais limpa, ao nascer do sol.
Texto escrito e publicado originalmente na coluna semanal "Olhar Poético", que assino no Blog Hoje Vou Assim, da Cris Guerra.
Deve ter sido a primavera que nos presenteou com a volta desse amor. E que ele se faça pelas madrugadas, pelos dias, pelos deliciosos domingos em famíliamigos e em todos nós.
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