Zé, Dan e Teco - Os caras do Fim de Expediente |
Na minha memória mais remota, me recordo de um fim de tarde no interior do Maranhão, na cidade em que minha avó nasceu, Viana. Mais precisamente, num lugarejo chamado Bacurizeiro (bacuri, pra quem não sabe é um fruto delicioso, que só provei por aquelas bandas, pelo Maranhão, pelos tempos de minha infância). Pois bem, lá, no Bacurizeiro, fazendo um viagem de reencontros entre minha avó Antonieta Gaspar Viegas e sua gente, seus parentes, primos, amigos, lá, naquele fim de tarde, em volta de um aparelho de rádio Transglobe Philco, a válvulas, eu descobri a hora da melancolia.
Ao som do rádio e das cigarras, o dia se punha enquanto amigos de sempre trocavam emoções e experiências de vida. Lá longe, enquanto o dia virava noite, eu, menino de tudo, não sabia muito o quê aquela dorzinha sem razão significava em meu peito. Sabia que ela estava ali, sabia que tinha a ver com aquele lugar, com aquela hora, com aquele veludo que cai sobre o dia antes que a noite se faça por completo. Ali, bem ali, nas ondas do rádio e das risadas dos amigos de minha avó.
O Programa de rádio tem essa magia. Nos faz enxergar imagens sem que elas existam de fato. O segredo de escutar rádio é permitir que a imaginação corra solta. E a partir disso criar imagens. Pode ser um jogo de futebol em que se imagina a bola raspando a trave. Pode ser um conto, uma viagem, uma paisagem ou pode ser uma conversa sobre o tempo passado.
E é essa a magia que ainda há nas transmissões radiofônicas feitas pelo Dan e sua turma (ele apresenta o programa com o Teco e com o Zé, todas as sextas, entre as seis da tarde e as sete da noite. Não os conheço pessoalmente, mas ninguém arriscaria dizer que não somos amigos íntimos.)
Guilherme Arantes (de camisa azul) durante o programa. |
Ao longo de uma hora de entrevista ele desfila por assunto variados, traduz os anseios de uma época em que o tempo passava mais lento e as pessoas viviam mais a fundo as suas experiências de vida. Um tempo distinto desse em que vivemos. Um tempo livre da pressa e da instantaneidade.
Entre as tantas boas histórias que ele contou, uma foi emocionante e divertida ao mesmo tempo - a de como ele compôs um dos seus maiores sucessos românticos - Um dia, um adeus. Ouvir aquilo no fim de tarde melhorou o meu dia. Fez a volta pra casa ser mais leve. E me deu vontade de repartir o programa com alguém.
Há pouco, localizei o programa na internet. Chamei Mara, Mariana e Gabriel. Liguei computador e aumentei o volume. Por uma hora ficamos ali, em torno do rádio, ouvindo as histórias do Guilherme, dando risadas com o Dan, o Teco e o Zé.
De repente, me veio aquela sensação de menino. Aquela imagem viva de quando estive lá na terra de minha avó, debaixo daquela árvore, ouvindo rádio e sentindo um dor no peito enquanto o dia cedia lugar para a noite estrelada do interior do Maranhão.
De repente, senti a mesma dor. Agora, conjugada com a maturidade. Mas ainda assim, uma dor de melancolia. Dessas que só as ondas do rádio são capazes de produzir. Ainda hoje. E, desconfio, pra sempre.
(P.S. O programa a que me refiro está na página da CBN. Ao acessá-la, procure pelo programa Fim de Expediente. E escolha o da última sexta-feira, 24.05, em que o entrevistado foi o Guilherme Arantes. Você vai gastar uma hora ouvindo e vai ganhar o dia. Pode acreditar. Não desligue antes de ouvir a história de Um dia, um adeus, música com que encerro essa publicação.)
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