Da esquerda para a direita: Ildenor, Isabel Cristina, Isanor. À frente, Iram, o aniversariante. |
Hoje, 29, dia de São Pedro
Dormia em rede, sem saber que dormir em redes é uma arte dada a poetas do sono (os sonhos sonhados ali ficam mais coloridos). Acho que vem dai o meu amor pela poesia. Apreciava as chuvas sem nunca descobrir de onde vinham todos aqueles pingos, e sem desconfiar para onde eles iam, em forma de correnteza, depois que caiam no chão.
Madre Deus
O sol daqui me faz arder em chamas a memória. Me transporto para lá. Caboclos de pena, matracas e pandeiros. As ruas cheias de gente, e suor, milhares de vozes cantando ao mesmo tempo, a batida dos tambores, a fogueira aquecendo o couro e alcançando o timbre certo. Enquanto estive lá, escutei de longe os brincantes, as toadas e invejei as danças com o olhar. Pedro, que estudou comigo; e Laurinda, irmã de Del, me escrevem e descrevem o que veem e ouvem. Penso que eu queria estar lá. Fecho os olhos e ouço tudo também.
Quando eu me lembro
a minha bela mocidade
eu tinha tudo à vontatde
brincando no boi de Axixá
Eu ficava com você
naquela tarde ensolarada
a sua pele bronzeada
eu começava a contemplar
mas é que o vento buliçoso
balançava os seus cabelos
E eu ficava com ciúmes
do perfume ele tirar
mas quando o banzeiro quebrava
seu lindo rosto molhava
e a gente se rolava
na areia do mar
A letra veio toda, inteira. Busco uma imagem e encontro a canção. Digna de ouvir. Som da minha terra e da minha infância.
Pedrada Primordial
A Madre Deus em mim não é de hoje. É de útero.
Manuelando
Recorro a Manuel de Barros e sua infinita destreza para desconstruir palavras e reconstruir a natureza. O invejo em sua auto-definicão de sabedoria.
"Tenho o privilégio de não saber quase tudo. E isso explica o resto".
Manoel escreve coisas que me fazem ficar matutando: Meu Deus, como não fui eu que fiz?
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