Luis, Olívia e os filhos. Priscas eras e panelas cantantes. |
Luís e Olívia Poltronieri compuseram uma família numerosa. Tal qual uma
canção, misturaram a realidade nua e crua e a poesia, no seu jeito de criar
filhos. Nasci depois de três e antes de dois, a quarta de seis. Os tempos
vividos eram duros, terra estranha para aventureiros gaúchos em terra
paranaense.
Numa cozinha de restaurante esperava ser amamentada por uma
mãe-cozinheira. Lá, guardada num cesto de pães, meu sono e minha noção de tempo
eram regidos por aromas e sons. Creio até que sabia a hora de chorar movida pela
fome, pelo levantar das tampas das panelas.
Morávamos no fundo do restaurante. A casa era pequena e simples.
A vida era simples. Convertida assim, neste presente de consumo compulsivo, uma
vida simples pode ser uma aflição, mas não lá. Olívia, prática que era, cuidava
dos assuntos objetivos das necessidades dos filhos. Luís cuidava dos sonhos.
Lembro-me dos dias frios, as camas alinhadas pilhadas por
cobertas e casacos, que serviam de mantas com braços. Uma lata grande de óleo
fazia-se de lareira improvisada, no meio da sala. Braseiros retirados do fogão
a lenha do restaurante, aqueciam pais e filhos numa conversa generosa.
Olívia e sua turma. |
Lembro-me dos dias de chuva. Corríamos a juntar os pingos com
panelas que viravam música. As panelas cantantes. E se a energia faltasse,
velas iluminavam nossos rostos, contávamos histórias, inventávamos brincadeiras
e a noite passava mansa e gentil até a chegada da luz.
Tudo tão terno no comum das horas que guardo em mim um passado
quente.
A saudade é uma
companhia doce.
*
Mariza Poltronieri é culinarista,
em Maringá, sócia do Bistrô Buena Vista. Escreve aqui sempre que tem vontade. E sobre o que
quiser. Toda vez que ela aparece, tempera as páginas desse blog com
histórias deliciosas. Hoje, com as suas panelas cantantes.
Obrigada querido. Presente de fim de dia, depois de cantar com minhas panelas no bistrô. Hoje foi uma sinfonia.
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