terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Um dia

Sophia e Maurilo
Ontem, o velho Maurilão de guerra, redator publicitário, poeta, cantador e o que mais couber nas definições de um mineiro da gema, causou uma comoção entre os seus leitores. É que ele resgatou um texto antigo e publicou outra vez, agora, no Facebook.

É uma carta/poema pra Sophia, filhota dele e de Fernanda. Sophia é uma pequena atriz. Protagonista, com P maiúsculo do show da vida de Maurilo e Fernanda. E por tabela, desde que ele começou a relatar as tiradas cotidianas de Sophia no Pastelzinho, blog que ele alimenta com muita dedicação, ela ultrapassou o contexto da família e é admirada por muita gente.

O texto de Maurilo é uma declaração de amor à filha e à vida. E se encaixa no coração de qualquer pai, de qualquer mãe, de qualquer amor verdadeiro. Valeu, compadre. Valeu! Beijo na Sophia. Como eu te disse ainda há pouco, um dia, ela vai se emocionar muito ao ler estas linhas.

Maurilo Andreas

Um dia papai vai morrer, filhinha, queira Deus que bem velhinho, queira a vida que bem feliz. Nesse dia, já não hei de querer mais nada, e se tudo correr como espero, você já não precisará de mim.

Não me pedirá colo, não me fará carinho nos cabelos, não ouvirá minhas histórias.

Nesse dia, você já será outra Sophia e não mais a minha Sophia. Estarei feliz, mesmo que não te diga, por saber que voc...ê será assim, somente sua.

No dia em que eu morrer, não levarei seus cachinhos, não beijarei suas mãozinhas e não te jogarei pro alto ou carregarei dormindo. Serei eu também só eu. Só meu.

Talvez você chore e vai estar tudo bem. Vai ficar tudo bem, minha filha, porque mesmo que minha vida termine assim e, acredite, saber disso me faz bem, a sua vai continuar.

E será linda, minha Sophia - sim, ainda e sempre minha Sophia - linda como seu pai nunca soube dizer.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Tão Pouco

No fim do ano passado, Guilherme Rondon lançou um novo trabalho autoral. Produzido em seu estúdio, no pantanal, às margens do Rio Negro, o disco que nasceu ali é uma preciosidade. Eu já falei sobre esse trabalho aqui no blog. Para ler o texto que escrevi tempos atrás, basta clicar aqui.

Hoje, começo o dia copiando a letra e postando o áudio de uma das canções que considero mais lindas desse novo disco. Quem quiser conhecer um pouco mais sobre a história do Guilherme e ouvir outras músicas dele pode clicar nesse link e se esbaldar. A viagem vai ser boa.

Por ora, fico com a letra e a música de "Tão Pouco". Na verdade, mais justo seria dizer, poesia e música. De Guilherme e Alexandre Lemos.

Tão Pouco
É melhor do que nada
ter alguém pra lembrar
que a gente quis

Já valeu muito a pena
o amor que passou
mas foi feliz

Sozinho
assim eu vejo o meu caminho
mas isso não me dá tristeza
de tanto que eu vi beleza
nos olhos de quem me queria
no sol de cada novo dia
nas noites de amor e lua
no brilho que continua

E passa o tempo e não volta mais
mas cada tempo que se desfaz
a gente vai se lembrar

o tempo sabe melhor que eu
se arrepende quem não viveu
com medo de se arriscar

Vazio,
quem tem o coração tão frio
não sabe que viver não cansa
quem sabe que uma lembrança
é muito mais que uma saudade
é prova de que foi verdade
aquele amor que foi embora
e ainda é amor agora

É melhor do que tudo
ter alguma razão
pra se viver

Quem viveu bem a vida
gosta mais de lembrar
do que esquecer

Sozinho,
assim eu vejo o meu caminho
mas isso não me dá tristeza
de tanto que eu vi beleza
nos olhos de quem me queria
a luz de cada novo dia
nas noites de amor e lua
no brilho que continua

E passa o tempo e não volta mais
mas cada tempo que se desfaz
a gente vai se lembrar
o tempo sabe melhor que eu
só se arrepende quem não viveu
com medo de se arriscar...


ComScore

sábado, 28 de janeiro de 2012

Short Cuts de sábado

Manhã de sábado

É verão em Brasília. Faz 19 graus, acredite. Tá bem, é aqui na "Petrópolis do Cerrado", Sobradinho, onde moro. E é só entre a madrugada e as primeiras horas da manhã. Mas, acredite. É verão. E há dias eu puxo uma coberta pra dormir.

Grand Slan


Maria Sharapova
 Na preguiça da manhã chuvosa e fria, ligo a TV sem sair da cama. Tem uma decisão de Grand Slan. O torneio de tênis Aberto da Austrália, feminino, está sendo decidido. Sharapova contra Azarenka. Duas "mocinhas lindas". Decido ver um pouco. Decido ver mais.  Jogo é bom.

Victoria Azarenka
Descubro que uma é da Rússia e outra, da Bielorússia. E jogam como loucas. A Sharapova eu já tinha ouvido falar. Mas a Azarenka, não sabia da existência. Decido torcer por ela. E apesar do nome que sugere que a gente pense no azar, era o seu dia de sorte. Mandou um chocolate na Sharapova. Seis a zero no segundo e decisivo set. A chuva parou. Hora de sair da cama.



Ela venceu o aberto da Austrália e abriu a minha manhã de sábado
Maurinho veio aqui

Mauro e Mariana, minha filha.
Mauro di Deus, sobre quem eu já falei aqui no blog,  me ligou. Queria saber como eu estava. Ainda de molho, mas quase no ponto pra sair do estaleiro, eu disse. Então vou ai, ele avisou. E veio. Chegou depois do almoço. Quase quatro. E o resto de tarde passou sem que a gente sentisse. Virou noite e a gente não viu. Quase cinco horas de conversa. Das boas. Falamos de tudo. De cinema a literatura. De música a filhos. Mas, falamos principalmente de coisas que gostamos. Falamos da vida.

 Ele me trouxe de presente um documentário sobre Brasília. "As idades de Brasília", dirigido por Renado Barbieri e produzido por Bismarque Villa Real,  de quem Mauro foi sócio e é amigo. Me disse que o filme é fantástico e eu acredito. No meio da conversa, ele me diz que está em busca do DVD do Arnaldo Antunes - "Ao vivo, lá em casa". É lindo. Eu tenho. Vou na prateleira, busco e lhe empresto.

Rimos muito, o Mauro fumou um charuto, falamos de saúde, dos olhos, bebemos café, falamos da vida... Foi uma belíssima tarde/noite. Valeu Maurinho. Não fique em uma. Venha mais. Sempre que puder. Sempre que quiser. A casa é sua.

A Curva da Cintura


Edgar Scandurra e Arnaldo Antunes
 Dias destes, eu estava aqui, recolhido. Lendo, escrevendo, fuçando a internet. De repente, dei de cara com uma reportagem falando sobre um trabalho de Arnaldo Antunes e Edgar Scandurra, em Mali, na África. Quis saber mais. Descobri que os dois andam juntos há muito tempo. E tinham combinado produzir um disco minimalista, fruto do trabalho e da sintonia que têm.

No meio do caminho, cruzaram com um instrumentisla malinês, Toumani Diabaté. A República de Mali é um país localizado na África Ocidental,  já foi colônia francesa, mas desde 60 é um país independente. Tem doze milhões de habitantes, não tem saída pro mar e quase a metade da sua população vive abaixo da linha de pobreza, com o equivalente a um dólar por dia.
Kora, instrumento típico do Mali
Pois, esse pais tem uma tradição de bons músicos e o mais conhecido deles, na atualidade é Toumani. Ele tem a dignidade de um rei africano e toca como poucos um instrumento que lembra uma harpa, a Kora. O encontro com Arnaldo e Edgar aconteceu num show  do projeto Black 2Black.

Resultou numa sólida amizade, em mútuo respeito e em um convite: Por que vocês não vem a Mali e fazemos um disco juntos? O convite foi aceito. O disco é lindo e o documentário chama-se "A curva da Cintura" e é melhor ainda. O resultado da produção conjunta não é uma sonoridade usual, fácil de assimilar. É quase minimalista, como queriam Arnaldo e Edgar, bem no começo da história.

Enquanto eu estava entretido lendo, ouvido os depoimentos e assistindo parte do show que já está na internet, meu filho Gabriel me olhava à distância, sem dizer nada. Ontem à noite, quando ele voltou pra casa, me disse que tinha um presente e me deu o DVD com o documentário. Claro que eu fiquei emocionado. Pelo carinho, pela sintonia, por tudo.

O documentário foi produzido entre São Paulo e Bamako, capital de Mali. A direção e a fotografia são da Dora Jobim. O resultado do trabalho virou um especial da MTV brasileira, que foi ao ar no final do ano passado. Eu já vi duas vezes. E como encontrei o documentário dividido em quatro partes no You Tube, tomo a liberdade de postar aqui.

Gaste um tempinho e veja. Acho que depois de ver a primeira parte aqui, você vai querer sair correndo e comprar o seu DVD. Só pra ver em melhor qualidade, quantas vezes quiser.





sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Histórias de sexta

Desabamento aqui...

O Brasil ainda está sob o impacto do desabamento dos três prédios na área central do Rio de Janeiro. Faz dois dias. Mas as imagens e o drama vão durar uma eternidade. Os relatos contam que em menos de dez segundos um prédio de 20 andares, outro de 10 e um de 4 se desintegraram, viraram uma montanha de entulho.

Estima-se que 23 pessoas tenham morrido. Houve relatos de pequenos milagres. Um homem saiu do elevador, viu o prédio se desintegrando e correu pra dentro do elevador, de novo. Tudo o que os especialistas não recomendam. Mas isso o salvou.

Um zelador fazia uma vistoria no sexto andar, no prédio de 10 andares. Ouviu barulhos, percebeu o prédio ao lado caindo e correu para a sacada do prédio em que estava, que também foi destruído como se destrói um castelo de cartas. O primeiro bombeiro a chegar subiu em um monte de entulho para conversar com pessoas de um prédio vizinho e ouviu alguém dizendo – Estou aqui, no sexto andar. Era o zelador, sob os seus pés, salvo por um milagre, no meio dos escombros.

Mas houve também relatos dramáticos que não tiveram final feliz. Um homem conversava pelo MSN com a sua esposa. Ele, em um lugar da cidade; ela, no primeiro prédio a desabar. De repente, a conversa foi interrompida sem um ponto final. Não deu tempo dela despedir-se ou, sequer, de dizer o que estava acontecendo. O teclado parado. A tela vazia. O homem desesperado. Hoje, ao final da manhã, o corpo dela foi encontrado.

Em outro caso dramático, já algum tempo depois dos prédios terem desabado, uma noiva recebeu uma ligação do seu noivo. Ele trabalhava no prédio. Ele trocou poucas palavras com ela. O sinal caiu. O telefone ficou mudo. Foi a última vez em que se falaram. Ele ainda não havia sido encontrado até há pouco.

... E terremoto lá.

Eliane Di Quarto, minha amiga jornalista que vive em Milão, na Itália, me escreve pra dizer que a terra tremeu por lá. Foi também há dois dias. E o relato dela dá uma ideia da angústia que vive quem tem tempo pra pensar e, felizmente, se salvar, numa circunstância dessas:

A terra tremeu! Foi hoje de manhã! Era mais ou menos 9h10. Depois de tudo passado, a informação é de que o terremoto, com epicentro na planície Padana Emiliana e 4.9 na escala Richter, durou 10 segundos!

Ô, 10 segundos longos! Foi o tempo de pegar o casaco da Sophia, o meu, deixar tudo do jeito que estava e descer. Pelas escadas. Nada de elevador porque pode ser ainda mais perigoso. Tremia a terra, mas o tremor maior era dentro de mim. Pensava no Lorenzo na escola. Pensava no que aconteceria se desmoronasse tudo! Pensava nas perdas. Em todos os tipos. É inevitável não pensar! E agora?

O prédio onde moramos foi construído nos anos 70, já pensado para situações como esta, mas quem fica em casa pra ver se a engenharia funciona mesmo? Quanto mais alto se está, mais forte se sente o tremor. Eu, Andrea, que ainda não tinha saído para o trabalho, e Sophia ficamos pela rua. Com o celular, tentei sintonizar uma rádio. Parecia tudo tranquilo, mas ainda assim inventei algumas coisas pra fazer. Desculpa pra não voltar pra casa.

Fruta, verdura, perfumaria e creme para o rosto. Tudo no térreo! Sete anos atrás vivi a mesma sensação. Era madrugada! Dormia e senti a cama caminhar e tremer tudo. Nunca tinha provado na pele, mas logo entendi que era um terremoto. Saímos de casa de pijamas, só com o sobretudo por cima, e passamos boa parte da noite no carro, ouvindo as notícias à espera de uma informação um pouco mais segura pra poder entrar em casa.

Agora, acabo de voltar pra casa. Na estrada, pensei na minha tristeza hoje de manhã, quando Andrea teve que formatar o nosso Hard Disk externo por conta de um problema sem solução. Perdi várias e várias imagens arquivadas à espera de um tempo pra editar uns vídeos. Nestes momentos um pensamento puxa o outro e tentei fazer as contas do que já perdi, por causa da distração, do computador que me deixou na mão, da velha agenda eletrônica que pifou...

Hoje, passado um tempo, vejo que quase nem me lembro, com certeza, do que ficou pra trás. E como acontece quando meu cérebro está no canal italiano, deixei escapar em alta voz um: “va fanculo le immagini perse! Andiamo avanti nella vita!”

Levo o dia adiante com o celular sempre no bolso, nada de pantufas nos pés, e os casacos já pendurados na porta. Se for preciso sair correndo. Já está tudo na mão!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Velha e Louca

Agora, sim. É pra ir dormir. Mas só depois de ver a Malu Magalhães cantando "Velha e Louca". Valeu! Até amanhã.

Os fantásticos livros voadores

"Os Fantásticos Livros Voadores do Senhor Morris Lessmore" é um filme de 15 minutos. Mas vale cada um deles e muito mais. Esse curta-metragem mistura várias técnicas que vão das miniaturas, às ilustrações em  2 D e uma sofisticada computação gráfica. É uma fábula que tem componentes do Mágico de Oz, inspirada nos estragos feitos pelo Furacão Katrina e em Buster Keaton. Mas, sobretudo, é uma declaração de amor aos livros e às pessoas que gostam deles.

O filme já recebeu muitos e merecidos prêmios e é um dos cinco que concorrem ao Oscar de melhor filme de animação deste ano. Ele foi produzido pelo Moonbot Studios e a direção é de Willian Joyce e Brandon Oldenburg. E se eu estivese na Academia, já teria o meu voto.

The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore from Moonbot Studios on Vimeo.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Animals

Há 35 anos, o grupo inglês Pink Floyd lançava o LP Animals. Foi o décimo album da banda, totalmente inspirado no livro "A Revolução dos Bichos", de George Orwell e fazia uma crítica dura à crise econômica e social vivida pela Inglaterra daqueles tempos.

Muitos consideram o último ábum que teve participação criativa de toda a banda. O posterior a esse, The Wall, teve as músicas inteiramente escritas por Roger Waters.

O disco é fantástico. E eu fecho a noite com Pigs on the Wing. Pra lembrar os velhos tempos.

  

Ela disse adeus

Corria o ano de 1975. Na fronteira entre o Brasil, o Paraguai e a Argentina, eu completava 13 anos de idade e começava a descobrir detalhes importantes do mundo e da vida. A música, por exemplo, teve um papel marcante na minha formação, na minha concepção de valores.

Me lembro que meu pai comprou uma radiola Philco. Naqueles tempos, a radiola era o móvel mais charmoso da casa. A nossa, ficava na sala. Objeto de decoração e de adoração. Criança não podia chegar perto. Pra não estragar o equipamento tão caro. Ela era imensa e tinha um som grave inesquecível, daqueles de fazer balançar janelas de vidro e por pra vibrar o corpo quando a gente chegava mais perto.

O primeiro LP a gente não esquece
Foi nesse ano que comprei o primeiro Long Play ou LP (era assim que se chamavam os bolachões de vinil) que me lembro, na vida. Cheguei em casa com o disco "Fruto Proibido", da Rita Lee e do grupo Tutti Frutti. Uma revolução para a época. Meus pais me olharam desconfiados. Aquele bando de cabeludos, aquela música barulhenta e aquela menina com roupas estranhas na capa, não podia ser coisa boa.

Mas era. Como filho mais velho, conquistei a condição de mexer (cuidadosamente) na radiola. Ouvi tanto aquele disco que decorei todas as letras e a sequência de cada música. Não havia uma que não se encaixasse com os meus sonhos e as minhas angústias juvenis. Era um disco vigoroso. Um sopro de renovação que virou um clássico do rock brasileiro. Uma surpresa generalizada.

Diferente do que acontece hoje, o disco tinha boas músicas do início ao fim. Vendeu 200 mil cópias tornando-se o primeiro grande sucesso do rock nacional da década de 70. E trazia pelo menos duas parcerias maravilhosas de Rita Lee com Paulo Coelho (até então, muito mais letrista do que mago), Esse tal de Roque Enrow e O Toque.

Fruto Proibido, que tenho até hoje, acompanhou todas as mudanças que fiz na vida. Quando saí de casa para estudar fora, levei comigo a Rita e seus amigos cabeludos. Quando conquistei a primeira namorada, fui correndo lhe apresentar a Rita Lee e o Fruto Proibido (sem que isso fosse um trocadilho infame, claro).

Ao final de alguns namoros, muitas vezes recorri ao Fruto Proibido da Rita para curar a dor de cotovelo. O disco quase furava - de tanto tocar - a faixa "Agora só falta Você", cuja letra dizia: Um belo dia resolvi mudar / E fazer tudo o que  eu queria fazer / me libertei daquela vida vulgar / que eu levava estando junto a você ... 

Com Rita, descobri Luz Del Fuego, uma feminista brasileira. Me apaixonei pelos primeiros acordes do blues em "Cartão Postal", que bem mais tarde ficaria eternizado também na voz terminal de Cazuza. Enfim, com a Rainha do Rock Brasil sonhei, sofri, sorri e fiz viagens deliciosas.

Rita e os mutantes
Por fim, o disco trazia a faixa de virou hino de várias gerações e que ainda hoje tem espaço nos corações digitais dos jovens, apesar dos twitters e facebooks da vida: "Ovelha Negra". A canção era um desabafo da Rita, que se viu excluída dos mutantes em 72. Mas música e letra cabem como uma luva na história de todo mundo que um dia já viveu essa sensação de ficar de fora do jogo. E quem nunca ficou, que atire a primeira pedra.

Ontem, li no jornal que aos 67 anos de idade, ela disse adeus aos palcos. Não vai se afastar das músicas, mas faz a sua última turnê ainda no começo deste ano. É justo, embora seja triste. É mais um dos meus ídolos a caminho da aposentadoria. Mas, recorrendo ao velho e bom Fruto Proibido, e à música Cartão
Postal, faço minhas as palavras dela: O adeus traz a esperança escondida. Pra quê sofrer com despedida? 

Rita sai de cena, mas tratou de deixar uma ocupante à altura para o posto. No vídeo aí embaixo, ela elege a sua "filha" e herdeira do rock. Pitty. E faz uma apresentação histórica junto com a menina, que ela havia, naquele momento, recém descoberto. God bless the Queen!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Lá do alto

O BASE jumping é um esporte para poucos. Ou para loucos. É uma modalidade na qual o praticante salta de penhascos, prédios, antenas e até pontes. Para esse tipo de atividade se faz o uso de um pára-quedas apropriado para aberturas a baixas altitudes.

A sigla B.A.S.E. quer dizer "Building Antenna Spam & Earth", ou em português, "Prédio, Antena, Ponte e Terra". A taxa de mortalidade dos praticantes desse esporte é altíssima, por isso ele é proíbido em diversos paises.

Na virada do ano, um grupo de sete base-jumpers, que é como se chamam os praticantes deste esporte, resolveu saltar de um conjunto de prédios dos mais altos de Singapura, o Marina Bay Sands Skypark.

A aventura foi registrada nesse vídeo que está aí abaixo. Só de olhar as pessoas nadando na piscina que fica no topo de um dos prédios já dá um frio na barriga. Imagine saltar de lá de cima. A aventura é para poucos, mas o vídeo está acessível a todos. É só dar o play, segurar o fôlego e curtir.

Marina Bay Sands Skypark BASE Jump. Singapore 2012. from Snow R. Shai on Vimeo.

Cartas de Milão

Por *Eliane Di Quarto

Sexta-feira pensava no Brasil enquanto ia à escola pegar o Lorenzo. Aqui em Milão faz um tempo cinza, neblina que não permite se ver um palmo adiante do nariz, –3 graus de temperatura. Lembrei dos tempos em que cheguei na Itália, quando, no primeiro inverno, os amigos do Andrea me ligavam em casa, pra saber se eu estava bem. Nevava e eles me perguntavam se eu estava bem.

Caía a neblina, a temperatura diminuía e me perguntavam se eu estava bem. Na cabeça deles como era possível uma brasileira, recém chegada da terra do sol, estar bem com aquele frio, com aquele tempo escuro! Eu estava bem! Talvez porque ainda fosse novidade. Para os meus olhos, para o meu corpo. Talvez porque eu ainda tivesse uma reserva de serotonina, vinda do Brasil. Talvez!!!!

Lapônia, terra de Noel. Onde o dia é quase sempre noite.
No inverno de 2008 estivemos na Lapônia, Circulo Polar Ártico e, lá, se fazia dia por volta das onze e meia da manhã. Dia por assim dizer, porque o sol não se via nem de longe. Lá pelas três da tarde era já escuro, escuro. Noite, mesmo. Eu observava e via aqueles semblantes tristes pelas ruas, gente séria e de pouco sorriso!

Passaram-se alguns anos desde a minha vinda pra Europa e desde a viagem à Finlândia. Só agora, eu consigo entendê-los. Que coisa estranha esta que o inverno nos traz! Que melancolia! Em mais de 10 anos foi a primeira vez em que eu experimentei esta sensação.

Me sentia, me sinto, um pouco como um animal em letargia à espera da primavera. Na maioria dos dias, lá pelas quatro e meia da tarde está escuro e às sete e meia da manhã acordamos com o, ainda, escuro. É certo que a luz solar é um grande estimulante dos mecanismos biológicos que regulam o estado de ânimo mas não sabia fosse uma sensação assim tão constante, tão lenta! E é difícil manter a alegria, o sorriso. Enfim, o bom humor!

Dia de inverno, em Milão
Visto da janela do apartamento, às quatro da tarde.
A vontade é de passar o dia em casa, cozinhando coisas quentes, em volta da mesa, diante de um cálice de vinho. Todos os projetos vão ficando pra depois porque se caminha pra cá e pra lá sem muita meta, sem muitos objetivos mas é preciso trabalhar, levar os filhos à escola, ao futebol, ao médico, ao cinema! Acontece, no futebol, de tentar ver o Lorenzo da beira do campo mas não conseguir, tamanha é a neblina.

Pra emergir começo a pensar na primavera! Ainda faltam 2 meses e pra driblar o tempo procuro na net algo sobre o novo CD da Marisa Monte que eu ainda não ouvi e nada sei sobre ele. Música e uma roupa mais colorida hoje! Sabe-se lá!!!

Eliane Di Quarto é jornalista, nasceu em Mato Grosso do Sul e está em Milão há mais de dez anos. É casada com Andrea, um editor italiano, e mãe de Lorenzo e Sophia. Entre uma troca de fralda e outra, ela sempre arranja um tempinho para escrever. E toda vez que me manda, sabe que tem lugar garantido aqui para os seus textos.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Charly e Mercedes

Parte da minha adolescência vivi na fronteira entre o Brasil, o Paraguai e a Argentina. Parte da minha memória musical vem dai e está repleta de lembranças vivas. À noite, antes de dormir, costumava sintonizar um radinho de pilhas na "Radio Mitre" de Buenos Aires.

Não poucas vezes, dormi ao som de dois mitos da música argentina. Mercedes Sosa e Charly Garcia. Hoje, antes de dormir, reencontrei os dois cantando juntos, como nunca havia visto antes. Meu coração disparou. E eu fui longe no tempo. Outra vez.

Ao final, Etta James

Uma das últimas divas em atividade, da velha escola da música negra americana, nome dos mais importantes do blues, jazz, rhythm & blues, Etta James nos deixou essa semana. Partiu aos 73 anos de idade e vai fazer falta.  Ao final, descanse em paz, Etta!

O tempo: tudo e nada

Filminho (quer dizer, filminho nada, filmão) pra terminar o dia ou começar o outro. Lam Kien é um fotógrafo que vive em San Francisco, na Califórnia.

Tempos atrás, ele deixou o emprego e partiu para uma longa viagem, com uma câmera nas mãos e muitas ideias na cabeça. Deu a volta ao mundo, visitando 17 países, em 343 dias e produzindo 6237 fotografias.

O resultado da viagem dele está resumido neste filminho sensacional aí embaixo. Uma obra de arte pra mostrar que o tempo é, ao mesmo tempo, tudo e nada. Por favor, assista em tela cheia.


Time is Nothing // Around The World Time Lapse from Kien Lam on Vimeo.

sábado, 21 de janeiro de 2012

O tempo, o passar do tempo e o silêncio

Considero saber passar o tempo um dos maiores desafios da atualidade. Em geral, luta-se hoje por um tempo a mais. De descanso, de lazer, de vida. Mas, geralmente, quando se conquista esse tempo ele é mau usado. Seja por falta de preparação, por falta de planejamento ou por inabilidade com o tempo.

Ontem, vivi um dos mais exigentes desafios dos últimos tempos. Esperar em silêncio por uma cirurgia. Coisa simples, uma hérnia umbilical, me diziam os especialistas. "Simples para quem, cara-pálida?" Eu me perguntava, com a consciência de que no universo da medicina há pouco de simplicidade.

Chego ao hospital e me dirijo ao espaço destinado à preparação pre-cirúrgica. Minha família ficou lá fora, no espaço frio, reservado às famílias de pacientes, que todo hospital tem. Agora era comigo, com o tempo e com o silêncio. Fora isso, havia um grupo de atendentes do hospital e outro de desconhecidos, na mesma situação que eu - a espera de uma cirurgia.

Orientado, fui a um banheiro tirar a roupa e por aquele jaleco "elegante" que todo hospital fornece a quem vai se internar. Pronto, juntei-me ao grupo de "desconhecidos íntimos". Eles abusavam do exercício de conversar entre si, abrindo mão do silêncio a que todos temos direito nessa situação.

Falavam tanto e tão avidamente que em poucos minutos, apenas por estar ali, eu sabia mais sobre a intimidade deles do que qualquer um deles pudesse imaginar. Não os recrimino. Penso que cada um lida com os seus medos e anseios da forma que é capaz. 

Eu me recolhi. Resolvido a viver o silêncio da espera, não importando quanto tempo isso significasse. Era eles, vivendo uma conversa nervosa, e eu, em absoluto silêncio. Fechei os olhos. Não havia telefone celular, iPad, iPod, livro, caderno ou caneta. Não havia sequer as minhas lentes de contato para me fazer enxergar melhor. Não havia outra coisa a fazer senão esperar.

No silêncio é quando a gente se enxerga melhor por dentro. No silêncio a gente vê, fica de frente, com o feio e o bonito de cada um de nós. Talvez por isso, as pessoas fujam tanto do silêncio. Uma hora depois de iniciado o meu silêncio, uma moça vestida para operar me chama pelo nome de batismo - Inorbel, vamos lá?

Pegou firme e carinhosamente em minha mão e me perguntou, rompendo o meu silêncio: Você está nervoso? E eu respondi: Não. Tenho alguma fome e a certeza de que o mais difícil já passou. Venci o tempo, o passar do tempo e o silêncio com dignidade.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Lá vem ele, Buddy Guy

Buddy Guy 
Foto: Fabiano Dallmeyer
Em 2012, o mês de maio, será o mês do blues aqui no Brasil. É que já está confirmada a passagem em terras brasileiras de Buddy Guy, um dos maiores nomes da história do blues, eleito um dos 30 melhores guitarristas de todos os tempos pela revista Rolling Stones. Ele vem para fazer três apresentações que prometem entrar para a história, em São Paulo, Rio e Porto Alegre, entre os dias 11 e 15 de maio.

Conhecido como um dos principais expoentes do chamado "Chicago Blues" - estilo imortalizado por Muddy Waters e Howlin' Wolf - o bluesman chega por aqui para promover seu mais recente disco, chamado Living Proof (2010). Nomes como Carlos Santana e B.B. King participam desse álbum.

Os ingressos já estão à venda na internet, nos sites do Vivo Rio, Ingresso Rápido e Via Funchal, ou pelo telefone 4003 -1212 (no Rio), além das bilheterias e postos de vendas credenciados. Os preços variam entre R$ 65 (meia entrada) e R$ 320, no Rio; e R$ 65 (meia entrada) e R$ 300, em São Paulo e R$ 130 (galerias) e R$ 350, POA.

Agora aproveite esse começo de noite e gaste um tempinho pra ver o vídeo aí embaixo com esses dois ícones da música mundial. Buddy Guy e B.B. King, em  Stay Around Longer. O ministério da boa música recomenda: Ouça bem alto.

Há 30 anos


Passava um pouco das duas da tarde, naquela terça-feira, 19 de janeiro de 82. Era dia de rematrícula na Unisinos. Eu estava na fila para escolher as disciplinas do curso de jornalismo que faria naquele semestre. De repente, um rádio sintonizado na Ipanema FM, de Porto Alegre, começou a tocar uma sequência de músicas na voz de Elis Regina.

Depois da terceira música seguida, comecei a achar que era mais do que uma escolha do programador. Desconfiei de uma homenagem. Não demorou muito para confirmar. Homenagem póstuma. A morte de Elis acabara de ser anunciada.

Deu um vazio no peito. Surgiu uma dor não sei de onde que tomou conta do corpo todo. Elis era um dos nossos ídolos. E saíra de cena sem mandar aviso. Trinta anos depois, sua voz segue emocionando. E aquela dor no peito insiste em se manifestar, leve, mas constante, todo dia 19 de janeiro.

O PhD em gente vale mais

* Por Marcelo S. Tognozzi

Em 2004, quando as redes sociais engatinhavam, um político chamado Howard Dean, ex-governador do estado de Vermont, decidiu usar a internet para fazer campanha. Ele disputava com o senador John Kerry, de Massachusetts, o direito de ser candidato a presidente pelo Partido Democrata. Nem Dean e nem John Trippi, seu marqueteiro, imaginavam que mudariam o jeito americano de fazer campanha, e também o do resto do mundo.

No início, eles acreditavam que a internet poderia ser apenas um meio eficiente de arrecadação, mas aos poucos começaram a entender que havia mais. “Isto não é simplesmente comunicar nossa mensagem, mas ouvir primeiro e formular nossa mensagem”, definiu Dean.

A tecnologia tem colocado na praça novos equipamentos e novas ferramentas praticamente todos os dias. Com o surgimento dos smartphones e dos tablets, a comunicação pela WEB experimenta uma nova onda de transformação. Os aplicativos que rodam no iPhone, rodam também no iPad e dentro de muito pouco tempo estarão rodando nos lap tops e nos desk tops. Isso quer dizer que não iremos mais precisar de um navegador tradicional para, por exemplo, acessar as redes sociais.

A velocidade das transformações é incontrolável. A campanha de Obama, que tanto sucesso fez em 2008, hoje está superada tecnologicamente. Mas o ensinamento número 1 de Dean continua atual: ouvir primeiro e formular depois.

O ambiente digital criou um novo contexto. Não se fala mais para uma massa compacta, mas para grupos que interagem entre si e com o comunicador (emissor). Isto é gestão de conteúdo, uma nova profissão surgida da necessidade de interagir com diferentes públicos ao mesmo tempo.

Hoje, ninguém pode ignorar a midia gerada pelo eleitor. Ela é consequência do desejo das pessoas estarem permenentemente conectadas. O resultado disso é um fluxo constante de pensamentos e opiniões. Um blogueiro gera mídia própria e também se apropria de conteúdos que estão circulando pela WEB. Isso vale para o Twitter, o Orkut, Facebook e quaisquer redes sociais. As opiniões não são mais formadas com a leitura de jornais e revistas, nem com uma simples conversa de bar. As pessoas usam as redes sociais, os blogs, trocam informações de todo tipo. Elas confiam mais na informação que circula na rede do que aquela publicada pela grande midia, atesta o Ibope Ratings. É comum esbarrarmos com posts do tipo: “pode pesquisar no google que vc vai ver que estou dizendo a verdade”.

É por isso que o conteúdo faz a diferença numa campanha digital. Se a idéia é boa, se a denúncia impacta, se a piada faz rir, alguém vai passar adiante. O importante é que estas ações sejam confiáveis, transparentes, autênticas. Verdadeiras.

Em 2009 eu estava em Washington participando do Politics Online Conference (POLC) e pude assistir a um debate entre o diretor de tecnologia do Barack Obama, Joe Rospars, e o diretor de tecnologia do John McCain, Michael Palmer. Rospars reconheceu que a tecnologia ajudou muito. Mas o pulo do gato foi a forma como a equipe de Obama gerenciou as relações humanas: “A organização comunitária foi o combustível da nossa campanha na Internet. Ajudou a formatar nossa estratégia tecnológica, nossa estratégia para arrecadar doações e a organizar as ações de corpo-a-corpo”. Ou seja: as relações humanas foram a base de tudo. Prevaleceram sobre as relações puramente tecnológicas, dando a vitória a quem melhor soube gerenciá-las. Aqui no Brasil não foi diferente.

Lula é PhD em gente. Levou Dilma Rousseff à vitória em outubro de 2010, numa campanha em que a internet não foi decisiva. Lula não é um ser tecnológico, mas um político que entende de relações humanas e sabe conversar com as pessoas. Quando em 2012 ou em 2014 a internet fizer a diferença nas campanhas políticas no Brasil, um PhD em gente vai continuar valendo mais que um PhD em Tecnologia da Informação.

*Marcelo S. Tognozzi é Jornalista, com J maiúsculo.
É plugado all the time. Colabora com o blog trazendo à pauta assuntos que envolvem mídia digital, redes sociais, jornalismo, política e o que mais houver. 
Ele sabe que tem espaço garantido para falar sempre e quando quiser.
Marcelo, sinta-se em casa. 

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

A good Wife

Filminho pra terminar a noite. Belo trabalho de animação. Trilha sonora fantástica e leveza nos takes e nos traços. Um clima noir. Intimista e moderno ao mesmo tempo. Direção competente de W. Scott Forbes. Música de Cyrelle Marchesseau. Som de Julien Begault. Apert o Play e confira.

A Good Wife from W. Scott Forbes on Vimeo.

The A Team

Acaba de sair a lista de indicaçãoes do BRIT Awards, premiação da indústria fonográfica do Reino Unido. A premiação acontece no dia 21 de fevereiro na Arena O2, em Londres. O artista com mais indicações é Ed Sheeran, cantor pop que ficou famoso graças ao Twitter e ao Facebook. Com a ajuda destes dois braços da rede social ele conseguiu vender mais de 200 mil cópias do álbum +, em duas semanas e sem a ajuda de uma gravadora.

Ed tem indicações em quatro categorias, incluindo Melhor Artista Masculino Britânico, Melhor Revelação Britânica, Álbum Britânico do Ano e Melhor Single Britânico por The A Team.



Norah, à tarde

Três músicos talentosos tocando dentro de uma sala. Danger Mouse, Daniele Luppi e Chris Milk, mais Norah Jones. Apenas isso. E isso é o bastante para fazer desse clip e dessa canção uma obra prima. Season's Trees. Na voz de Norah Jones. Simples e bela. Pra enfeitar a tarde que já, já, se transforma em uma noite chuvosa. Mais uma.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Presente

Hoje, Fernando Barros, um novo/velho amigo, me mandou um presente. Uma imagem. Xangô. O Deus do Fogo, da Justiça, dos raios e trovões. Deus do amor. Tenho razões pra imaginar que ele já estava a meu lado há muito. Desde os tempos de minha avó, Antonieta. Desde os tempos da Madre Deus. Desde quando eu me entendi por gente.

Mas ele nunca esteve tão ao meu lado como hoje. Valeu, Fernando. 2012 vai ser melhor. Está escrito.


sábado, 14 de janeiro de 2012

O direito ao delírio

De novo, acordei com os pássaros (quase uma rotina, uma agradável rotina, nestes dias de descanso). Lá fora, o tempo avisa: Está quase chegando a hora de regressar. Por isso, há uma chuva fina e persistente. Ainda assim e também por isso, o dia com chuva lá fora é magnífico.

Tenho vontade de entender a perfeição da natureza. Algo que faz, por exemplo, os pássaros seguirem cantando, independente de haver chuva ou fazer sol. Festejam algo, que eu desconfio ser a vida.

Embalado pelos passarinhos, resolvo celebrar produzindo algumas linhas. Abro o computador. Consigo uma nesga de conexão com a internet e vejo que acaba de chegar um e-mail do Celso Grecco. Ele me escreve e eu reproduzo, porque vale a pena:

"Meu amigo,
A propósito (acho) do filme Um Conto Chinês, dia desses falávamos sobre palavras e expressões que só podem ser expressas na língua em que foram criadas, como o espanhol. Olha que video lindo, um texto daqueles que eu queria ter escrito e se o tivesse escrito, acho que descansava em paz e não precisava escrever mais nada. Tem legendas que o traduzem e traduzido também ficou bonito.

Abraços!
Celso."

O texto a que se refere o Celso é em verdade um vídeo de sete minutos e pouco, que contém uma entrevista do escritor uruguaio (autor, entre outros tantos livros, de As Veias Abertas da América Latina), Eduardo Galeano. Galeano é um velho conhecido meu. Não de convivência mútua. Em verdade, ele nem sabe da minha existência. Eu o conheço e o admiro das páginas dos livros, que consumo desde a universidade. E devo dizer que a cada nova leitura, mais surpreso, mais encantado com a sua escrita eu fico.

Como agora, neste exato momento em que o Celso, certamente, lá de Portugal, me faz assistir essa "leitura" e me obriga a concordar com as suas palavras. Eu, como o Celso, fico aqui me perguntando: Como não fui eu que fiz?

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Short cuts sexta 13


Os pássaros

Acordar com os pássaros é uma delícia. Em dias de férias, desliguei meu relógio biológico. Em casa, acordo sempre entre cinco e cinco e meia da manhã. Aqui, acordo com os pássaros. Eles chegam sempre por volta de sete da manhã. Fazem uma algazarra na árvore que fica em frente à janela. E se mostram, e se exibem, como se esperassem a foto, como se a confiança houvesse desde sempre entre nós. É sexta-feira, 13. E nem por isso eles deixam de festejar.

Livros

Marina - É um livro fantástico, do escritor espanhol Carlos Ruiz Zafón. Ele não é novo, foi escrito por Zafón em 1999, mas a tradução e primeira edição brasileira é da Objetiva, e chegou às bancas no ano passado.

A história, uma ficção, é ambientada em Barcelona, no começo dos anos 80. Mistura um pouco do suspense de Hitchcock, com o realismo fantástico de Garcia Marques, com o trailer policial de Ruben Fonseca.

É uma bela história contada a partir do universo imaginário de dois adolescentes. Mas, ao misturar magia, mistério e aventura Zafón consegue imprimir uma velocidade correta ao texto e prender seus leitores, de todas as idades, da primeira à última página do livro.

O Livro do Boni - Eu terminei de ler hoje. O Boni é daquelas figuras que divide opiniões naturalmente. Há quem ame e há quem odeie. Eu prefiro reconhecer que a história da vida dele se confunde com a história da televisão no Brasil. Sem resvalar em julgamentos apaixonados. E sendo assim, reconheço que ele tem lugar garantido entre aqueles que tiveram coragem e determinação para vencer as limitações impostas pelo tempo e ousar.

Num país que se acostumou a consumir programas de televisão como quem consome gênero de primeira necessidade, é inegável que a persistência dele tem parte muito relevante na qualidade de produção que a TV brasileira alcançou.

Boni, em um texto autobiográfico, leve e fácil de ser lido, passa em revista o fim dos anos de ouro do rádio no Brasil e traduz com muita propriedade o início dos tempos da TV. Ele não tem a impetuosidade de um Assis Chateaubriandt, mas protagonizou alguns dos episódios mais marcantes da televisão, sobretudo no que diz respeito à história da TV Globo.

O livro é envolvente e necessário para compreender uma parte da história que a gente se acostumou a ouvir de forma apaixonada. É, em resumo, a versão do Boni para alguns fatos importantes tanto para quem, como eu, é jornalista e passou pela Globo um dia, como para quem quer apenas conhecer melhor a história da construção desse ícone da comunicação brasileiro e mundial.

A máquina de fazer espanhóis – Estou devorando. É o meu primeiro contato com a literatura de Valter Hugo Mãe, um escritor angolano, vencedor do prêmio literário José Saramago, em 2007, que aliás, declarou que consumir a literatura de Hugo Mãe equivalia a assistir a um novo parto da língua portuguesa. Valter é também poeta, artista plástico, Dj, vocalista da banda de rock Governo e editor. Já publicou em seu país autores brasileiros como Ferreira Gullar e Caetano Veloso. A máquina de fazer espanhóis foi o segundo livro de ficção mais vendido em Portugal, em 2010.

Babel na praia

Ontem estivemos em um restaurante que é a mais completa tradução do que se possa imaginar de uma babel na praia. O nome remete a um bordão de novela de grande sucesso na Globo e que se passava no Marrocos – Inshalláh. A decoração toda nos remete para o oriente e o local é montado especificamente para a temporada de verão. O dono, um uruguaio, tem uma casa em Montevideo e outra em Garopaba. E fica por aqui sempre até a páscoa.

Os atendentes estão vestidos como marroquinos. A comida é italiana – pizza e pastas. E a música, ah, a música... É o que há de mais surpreendente. Um dos melhores grupos de chorinho brasileiro que já assisti nos últimos tempos. Formado por quatro instrumentistas... URUGUAIOS. A mistura toda pode soar estranha. Mas o resultado é mais do que perfeito.

Conversei com um dos integrantes da banda, o Martin. Ele me explicou que ao todo são dez integrantes, todos apaixonados pelo chorinho brasileiro e que resolveram fazer disso a razão de viver. A banda "La Choronna" existe há cinco anos, já gravou dois discos e há dois anos resolveu trocar as "calles" de Montevidéu pelos palcos de Floripa.  Viva a globalização!





O mar

Pra fechar, o mar. Que não precisa de palavras. Que não precisa de descrição. Que tem melodia própria. E que nos brinda a cada dia com uma paisagem diferente.




quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Certeza pouca e necessária

Há palavras e significâncias que só se sabe por aqui, por estas bandas. Gabriel, meu filho, já é um homem, mas desde menino gosta de um tal refrigereco que atende pelo nome de "Laranjinha". Uma especiaria gaseificada que, desconfio, não se encontra em nenhum outro lugar do mundo senão aqui, em Garopaba.

A Mara adora um sorvete feito pela Gelomel - uma sorveteria local de "renome internacional".  O sorvete atende pelo nome de "Skimó" e é uma cópia bastante melhorada (dizem os apreciadores) do Eskibom, feito por uma multinacionalzinha qualquer, dessas que se encontra em todo lugar. 

Os dias aqui são incomuns. Há nuvens de chuva no ar. Acordo com o barulho da chuva. Penso que vai ser dia de leitura. Num instante, Zás! Uma lufada mais forte de vento. Não um vento comum, o " Vento Nordeste". Um tipo de vento que permeia as histórias, a cultura, a meteorologia e a mística deste lugar. Como num passe de mágica, o sol toma conta da manhã. Sim, há que ser mágica, não tem outra explicação.

Aulas de surf nas areias, antes de entrar nas águas frias de Garopaba; uma balada no Café Mormaii; barracas montadas na beira da praia antes de qualquer vivente chegar por lá; uma passada no mercado Silveira e um linguado à milaneza no Zanoni.  São situações aderentes a este universo praiano em que nos escondemos uma vez por ano, a pelo menos doze.

A igrejinha da cidade divisando a montanha e a praia dos pescadores. O falar cantado dos hermanos... No fim do dia, uma corrida solitária, já com a tarde virando noite. Céu de veludo estrelado, o vento Nordestão zunindo sem espantar ninguém. E uma única certeza, pouca e necessária: O tempo aqui tem outra medida.